domingo, 22 de agosto de 2010

É possível racionalizar a tendência das pesquisas?

Em conversa, o prof. Reginaldo Moraes chamou-me a atenção a fato realmente curioso para esta eleição. Ao contrário de muitas outras, nenhum dos candidatos tem uma identidade histórica com a direita. Alkmin há quatro anos, Garotinho há oito, ou até mesmo Ciro Gomes, antes Maluf, Collor etc; sempre havia uma liderança capaz de confundir sua história com a representação ortodoxa de mundo das elites.

Agora, tanto Dilma quanto Serra na luta contra a ditadura militar e na ligação com as esquerdas, passando pela ligação histórica de Plínio de Arruda Sampaio até o vinculo de Marina Silva com os movimentos sociais ambientais, não há nenhum candidato de visibilidade que formou sua trajetória política pela direita. O que inevitavelmente cria problemas mais à direita que à esquerda.

O candidato das elites (pensando direita como manutenção do establishment e a ligação com a ortodoxia econômica do capitalismo, desvinculado dos processos de vinculo político do Estado com a igualdade), quem agrupa esta bandeira seria José Serra. Paulistanos e paulistas de carteirinha, os bem sucedidos bandeirantes que construíram o empreendedorismo tupiniquim (seja lá o que isso quer dizer) os freqüentadores dos cafés e bares transados da avenida Paulista, dos Jardins e da Faria Lima, os bem postados fazendeiros de Ribeirão Preto e os latifundiários do nordeste, norte e centro-oeste, os detentores da tecnologia transgênica da soja são a base de apoio de José Serra. Não que Dilma, ou até mesmo Marina representem a estes a ameaça que outrora se vislumbrava. Nisso até hoje podemos encontrar dissidências. Os empreiteiros estão muito bem obrigado na administração petista. Mas, grosso modo, essas figuras sociais estão ligadas ao PSDB e DEM, tradicionalmente.

O que num mundo capitalista poderia ser uma vantagem competitiva a José Serra, pode ser na estrutura sócio-econômica brasileira uma desvantagem. Em primeiro lugar porque Lula conseguiu inverter o medo do looping proletariado. Aquela categoria social conservadora e que tem medo de mudanças e rejeita os métodos de enfrentamento da esquerda e, portanto, vota na direita encontrou na imagem de Lula e nos programas sociais do seu governo uma liderança antes nunca vislumbrada. Em segundo lugar, Lula desenvolveu um método para lidar com a dualidade estrutural do país mantendo a política econômica ortodoxa e criando políticas sociais heterodoxas. Podemos discutir a eficiência do método, mas não seus resultados...

Enfim, se a resposta de Lula (programas sociais para os pobres e economia ortodoxa para os ricos) tem dado frutos positivos basicamente porque há dois brasis em um Brasil, este é o problema de José Serra. Na leitura do prof. Reginaldo Moraes, quando Serra diz que vai manter a bolsa família, a esperança ou expectativa dos ricos é que esteja mentindo, porque execram esses programas, chamam-no de sustentáculo da preguiça, da miséria ou coisa assim. Mas, não sentem firmeza nas palavras de Serra. Acrescento que também não sentem firmeza nas opiniões de Serra, um ex-estruturalista, a respeito da política econômica. Estão com Serra, mas não sabem até que ponto Serra está com eles.

De outro lado, vem Lula e sua proposta de continuidade com Dilma. Tem mais coesão, mais coerência. Uma contradição que espelha outra contradição, um governo que se propõe de esquerda, mas que governa com a direita. Mas, contraditória também é a sociedade brasileira: se os ricos não se sentem ameaçados pelo governo petista, os pobres se vêem nele representados, se não como explicaríamos o corte classista do apoio ao presidente?

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