
Recentemente dei um giro razoável pela América do Sul – muito menor que eu gostaria, mas já uma boa amostra da expectativa que nossos vizinhos terão com relação aos eventos no Brasil. Ao perceber que sou Brasileiro, coisa não muito difícil depois das 4 primeiras palavras em portunhol, o assunto logo gira pra Futebol e Copa do Mundo. Se 2010 a seleção de Dunga não foi muito feliz, nos comentam sobre a possibilidade de 2014 ser um grande evento.
Conversei com várias pessoas, em nenhum momento fui eu quem mencionou os eventos, mas Bolivianos, Chilenos, Argentinos, Peruanos que viviam no Chile, Paraguaios que vivem no Uruguai. E não estamos falando de pessoas ricas, com poder aquisitivo de viajar. Estou falando de garçons, atendentes, porteiros, motoristas, taxistas, vendedores, pessoas que me disseram que possivelmente será a única chance de estarem presentes em um evento como esses – de escala mundial. Um garçom comentou que já está guardando dinheiro para vir ao Brasil ver a Copa. Argentinos dizendo que vão certamente se planejar. Gente do tipo cotidiano que aguarda ansiosamente para estarem no Brasil prestigiar o esporte e em alguma medida o país.

Todos sabemos que a violência no Brasil atinge níveis descompassados. Não é só a criminalidade, que preocupa e muito, mas também a violência vinda das ruas, das portas dos estádios, da ação da delinqüência, dos motivos os mais variados e, por vezes, fúteis. E controlar a violência não se faz apenas por repressão, mas também por educação, por construção de civilidade. Isso requer tempo, requer planejamento e políticas públicas – ações que não se vislumbram e não preocupam as autoridades.

Fico imaginado tristemente: as pessoas com quem conversei são pessoas de vida simples, sem grandes luxos e que sonham nos próximos 4 anos abrir mão de parte do seu conforto em função da realização de um sonho ao assistir uma partida da Copa do Mundo. Visitar um país que conhecem apenas pelas novelas da Rede Globo e pela música de Carlinho Brown ou Ivete Sangalo. Fico imaginando no garçom peruano com que conversei em Santiago. Descendo desavisado no Rio de Janeiro, sendo assaltado na Lapa, ficando sem o dinheiro que guardou por quatro anos. Perdido numa cidade com uma dinâmica bastante particular e que pode ser muito cruel com turistas desavisados. Ou alguns dos argentinos vindo à São Paulo e chateados ao se ver sem opções para conhecer as belezas de São Paulo, perdido na imensidão de pedra da cidade, sem informações sobre atrações turísticas, museus, bares, restaurantes etc. Como seremos anfitriões de se não respeitarmos nossos visinhos dando a eles estrutura mínima na sua curta estada no nosso país?
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