terça-feira, 29 de junho de 2010

Zweckrational e o futebol de Dunga

(Publicado no site da GAZETA ESPORTIVA: http://www.gazetaesportiva.net/nota/2010/06/29/642783.html )
Dunga esta mais pra zangado. Piadinha manjada, mas necessária. Não importa sua briga com a Globo, nem seus problemas pessoais. Sua cara amassada antecede e sucederá os eventos presentes. Porque nosso grão líder é cheio de melindres. “O jogador ficar parado na zona mista para dar entrevistas pode prejudicar a preparação.” ... blábláblá... Se um atleta se prejudicar porque ficou parado 10 minutos depois de um jogo, pendura as chuteiras. O fato é que Dunga não gosta do oba-oba dos jornalismos e festividades com o andamento da Copa do Mundo.
E a seleção brasileira, na medida em que avança na competição ganha em vigor físico e consegue melhores resultados. Pode ser campeã? Pode. Tem futebol pra isso, mas principalmente os outros times – exceto a Argentina e talvez a Alemanha – não tem força para se contrapor.
O fato curioso sociologicamente é que no discurso de todos os brasileiros, ou quase todos, sempre fica uma entrelinha de “não é esta a seleção que gostaríamos de ver”. Será que Ganso, Ronaldinho, Neymar e cia não dariam um gingado à mais que tanto agrada a torcida verde-amarela?
Ganhar a copa não significa necessariamente que os Brasileiros estão satisfeitos com a seleção. É verdade que entrará para a história como uma conquista. Todos estamos esperando o sexto título. Mas, à que custo? Lembramos da seleção de 94 com ar de glória? Ganhamos mas não convencemos. E naquele caso ainda tínhamos Romário – um impecável brasileiro que jogava futebol por vocação e não por profissão.
Recorro mais uma vez ao sociólogo alemão Max Weber (agora para explicar as contradições do torcedor da seleção canarinho – a primeira análise está aqui) e seu conceito de zweckrational: ação racional com vistas aos fins. Ou seja, não importa por que meios, o que importa são os resultados. Lembra a Maquiavel, onde: “os fins justificam os meios”.
Pode a seleção jogar mal? Pode a seleção ser retrancada, vazia de criatividade, burocrática, pobre de talentos, desprovida de craques, sem jogadas de encher os olhos? Na medida em que for campeã da copa, campeã do mundo, a resposta para tudo isso é SIM. Esta é a racionalidade que domina as escolhas de Dunga. Tudo ou nada. Sua ação é voltada ao resultado e nada mais.
Aí reside a contradição do torcedor. Eu e você no caso. Queremos ser campeões do mundo? Evidentemente. Mas, à que custo? Com um futebol feio, sem grandes lances, descaracterizado e chato. Não. Queremos ser campeões do mundo com dribles, jogadas de efeito, firulas, molecagens, toques rápidos e envolventes. Queremos que o mundo nos reverencie e diga: não há futebol como o brasileiro. É, afinal, nosso cartão de visitas, nossa bonança, sou brasileiro, nasci com o pé na bola.
Os meios são, ao torcedor, tão importantes quanto os fins. Dunga pode até ser campeão, mas na roda de boleiro sempre alguém vai levantar a pelota: mas, e se a seleção de 82 fosse campeã ehim!? Que time...

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