terça-feira, 11 de maio de 2010

Quando a sociologia explica a racionalidade do técnico da seleção brasileira

Max Weber, sociólogo alemão do inicio do século XX é um dos nomes mais fortes da sociologia. Sua contribuição atinge fronteiras das mais amplas, desde estudos das diversas religiões do mundo até os dilemas da escolha racional nas relações internacionais. Weber propôs um método sociológico baseado nos estudos que buscavam compreender o sentido da ação racional.
Podemos nos basear em Weber para tentar entender qual o sentido racional da convocação de Dunga. Vários instrumentos e textos propostos pelo sociólogo podem nos fazer entender isso.

Em primeiro lugar. O diagnóstico geral (inclusive já divulgado em entrevistas de Ricardo Teixeira em vários jornais) mostra que a seleção de 2006 perdeu a Copa do Mundo pelas baladas. A seleção era a melhor, entrosada, tinha os mais importantes atacantes em bom nível técnico, mas as festas e euforias, a paparicação da imprensa, as vaidades, todo o extra-campo destruiu a possibilidade do país conquistas sua sexta Copa do Mundo. Os atacantes rastejavam em campo contra a França e o magro 1x0 da derrota só escancarou a irresponsabilidade dos jogadores e a incapacidade de organização da comissão técnica.

Baseados nesse diagnósticos os dirigentes e comissão técnica afastaram os jogares vaidosos e irresponsáveis e tentam desde então organizar uma seleção com o compromisso do grupo e com a conquista. Neste cenário entra a figura de Kaká. Um jogador que age segundo a racionalidade protestante. Kaká é um evangélico declarado e segue os ditames cristãos. Não gosta de noitadas, é disciplinado, tenta se afastar das badalações e tem compromisso profissional declarado. Kaká tornou-se o pilar da seleção entre outras coisas pelo seu mérito de ser considerado um dos melhores jogadores do mundo, mas principalmente pelo seu compromisso evangélico com o profissionalismo. E o grupo em torno de Dunga pactuou a racionalidade de Kaká à frente da Seleção.

Alguém pode dizer: mas temos Robinho, um irresponsável baladeiro nato. Primeiro que um único jogador, dois ou três exceções de menor expressão não ditam as regras, as seguem. Acabam assumindo a regra geral ou são afastados. Vejam o que aconteceu com Adriano. É o melhor exemplo. Teve uma vida desregrada no Rio, brigou, reatou com a namorada, apareceu nos tablóides, foi acusado e defendido pelos comentaristas, ou seja, deu bandeira demais extra-campo e poderia influenciar negativamente os outros.

Concordemos com a convocação ou não – porque sinceramente eu to achando aquilo ali um curso pra coroinha – a convocação segue a racionalidade da formação de um grupo que se une pelo compromisso. Este compromisso, entre outras coisas é afastar tudo o que pode desvirtuá-lo de alcançá-lo. Nada mais próximo disso do que a racionalidade religiosa cristã: tudo que me afasta do compromisso de atingir o reino dos céus é pecado. Para atingir o céu, ou para merecê-lo, eu preciso abrir mão de muitas tentações e seguir no caminho do compromisso e da abnegação. Muitos dos jogadores que assumiram o profissionalismo depois de se perderem em mulheres, jogo, drogas, noitadas e com isso perderam desempenho e passaram maus bocados nos clubes; depois conseguiram voltar a atuar bem e ganhar espaço com a adesão à divina providência.

Não podemos (nem devemos) fazer juízo de valor diante das escolhas dos indivíduos. Àqueles que querem se entregar a Deus devemos abrir espaço e desejar boa sorte. O problema começa quando essa ótica é o filtro das opções para assumir um grupo futebolistico, que não tem nda de religioso.

Ronaldinho Gaucho sem dúvidas. Ganso certamente. E Neymar em menor medida. Estes tem amplos méritos de estar no grupo da seleção. O primeiro por motivos óbvios não é convocado: esteve tocando o puteiro no mundial de 2006. É um desvirtuado declarado. Os segundo e terceiro consideram que não foram testados. Mas, evidentemente que poderiam ter sido testados nos amistosos há dois ou três meses. Não foram testados; não porque não houve tempo, mas porque uma decisão foi tomada para não testá-los. Porém, mostraram recentemente o quão são comprometidos com a vitória e a postura de Ganso na final do paulista mostrou toda sua maturidade. Nunca enfrentou um zagueiro europeu? Nada que dois ou três treinos levando trombadas de Lucio e Thiago Silva que não os ensinem a como se portar.

Suponho que só há uma justificativa para a não convocação de Ronaldinho, Ganso e Neymar: não compartilha (o primeiro certamente) e não foram testadas suas reações (os outros) diante da ética evangélica desenvolvida por este grupo de jogadores da seleção. Se este é o motivo da não convocação; as idéias do técnico da seleção estão fora do lugar. Apostar que Kaká pode ser o pastor que vai conduzir as ovelhas ao caminho correto e este cuidado vai levá-los ao paraíso é uma idéia plausível. O Brasil entra na competição como favorito – não há como discordar disso. Porém, não podemos dizer que vai explorar seu melhor futebol com esta seleção. Porque a opção não foi pelo melhor futebol, foi pelo grupo mais coeso. Então: como posso supor que o jovem, inexperiente e moleque, Ganso merece menos que Julio Batista estar na seleção? Não faz o menor sentido.

Enfim: quanto deve custar a vitória tendo em vista a justiça? E o que eu vou dizer quando penso que o futebol mágico de Ronaldinho e Ganso poderiam nos deslumbrar a todos à frente das TVs de plasma (nova vetede tecnológica desta copa) foi-me furtada por uma ética religiosa? E alguém pode, por favor, dizer ao pastor Kaká que ele cometeu um pecado quando injustamente fechou o grupo e não reconheceu os méritos dos meninos da vila ou as qualidades sua antítese futebolística (e social) Ronaldinho...

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