
Em primeiro lugar. O diagnóstico geral (inclusive já divulgado em entrevistas de Ricardo Teixeira em vários jornais) mostra que a seleção de 2006 perdeu a Copa do Mundo pelas baladas. A seleção era a melhor, entrosada, tinha os mais importantes atacantes em bom nível técnico, mas as festas e euforias, a paparicação da imprensa, as vaidades, todo o extra-campo destruiu a possibilidade do país conquistas sua sexta Copa do Mundo. Os atacantes rastejavam em campo contra a França e o magro 1x0 da derrota só escancarou a irresponsabilidade dos jogadores e a incapacidade de organização da comissão técnica.
Baseados nesse diagnósticos os dirigentes e comissão técnica afastaram os jogares vaidosos e irresponsáveis e tentam desde então organizar uma seleção com o compromisso do grupo e com a conquista. Neste cenário entra a figura de Kaká. Um jogador que age segundo a racionalidade protestante. Kaká é um evangélico declarado e segue os ditames cristãos. Não gosta de noitadas, é disciplinado, tenta se afastar das badalações e tem compromisso profissional declarado. Kaká tornou-se o pilar da seleção entre outras coisas pelo seu mérito de ser considerado um dos melhores jogadores do mundo, mas principalmente pelo seu compromisso evangélico com o profissionalismo. E o grupo em torno de Dunga pactuou a racionalidade de Kaká à frente da Seleção.
Alguém pode dizer: mas temos Robinho, um irresponsável baladeiro nato. Primeiro que um único jogador, dois ou três exceções de menor expressão não ditam as regras, as seguem. Acabam assumindo a regra geral ou são afastados. Vejam o que aconteceu com Adriano. É o melhor exemplo. Teve uma vida desregrada no Rio, brigou, reatou com a namorada, apareceu nos tablóides, foi acusado e defendido pelos comentaristas, ou seja, deu bandeira demais extra-campo e poderia influenciar negativamente os outros.
Concordemos com a convocação ou não – porque sinceramente eu to achando aquilo ali um curso pra coroinha – a convocação segue a racionalidade da formação de um grupo que se une pelo compromisso. Este compromisso, entre outras coisas é afastar tudo o que pode desvirtuá-lo de alcançá-lo. Nada mais próximo disso do que a racionalidade religiosa cristã: tudo que me afasta do compromisso de atingir o reino dos céus é pecado. Para atingir o céu, ou para merecê-lo, eu preciso abrir mão de muitas tentações e seguir no caminho do compromisso e da abnegação. Muitos dos jogadores que assumiram o profissionalismo depois de se perderem em mulheres, jogo, drogas, noitadas e com isso perderam desempenho e passaram maus bocados nos clubes; depois conseguiram voltar a atuar bem e ganhar espaço com a adesão à divina providência.
Não podemos (nem devemos) fazer juízo de valor diante das escolhas dos indivíduos. Àqueles que querem se entregar a Deus devemos abrir espaço e desejar boa sorte. O problema começa quando essa ótica é o filtro das opções para assumir um grupo futebolistico, que não tem nda de religioso.
Ronaldinho Gaucho sem dúvidas. Ganso certamente. E Neymar em menor medida. Estes tem amplos méritos de estar no grupo da seleção. O primeiro por motivos óbvios não é convocado: esteve tocando o puteiro no mundial de 2006. É um desvirtuado declarado. Os segundo e terceiro consideram que não foram testados. Mas, evidentemente que poderiam ter sido testados nos amistosos há dois ou três meses. Não foram testados; não porque não houve tempo, mas porque uma decisão foi tomada para não testá-los. Porém, mostraram recentemente o quão são comprometidos com a vitória e a postura de Ganso na final do paulista mostrou toda sua maturidade. Nunca enfrentou um zagueiro europeu? Nada que dois ou três treinos levando trombadas de Lucio e Thiago Silva que não os ensinem a como se portar.
Suponho que só há uma justificativa para a não convocação de Ronaldinho, Ganso e Neymar: não compartilha (o primeiro certamente) e não foram testadas suas reações (os outros) diante da ética evangélica desenvolvida por este grupo de jogadores da seleção. Se este é o motivo da não convocação; as idéias do técnico da seleção estão fora do lugar. Apostar que Kaká pode ser o pastor que vai conduzir as ovelhas ao caminho correto e este cuidado vai levá-los ao paraíso é uma idéia plausível. O Brasil entra na competição como favorito – não há como discordar disso. Porém, não podemos dizer que vai explorar seu melhor futebol com esta seleção. Porque a opção não foi pelo melhor futebol, foi pelo grupo mais coeso. Então: como posso supor que o jovem, inexperiente e moleque, Ganso merece menos que Julio Batista estar na seleção? Não faz o menor sentido.
Enfim: quanto deve custar a vitória tendo em vista a justiça? E o que eu vou dizer quando penso que o futebol mágico de Ronaldinho e Ganso poderiam nos deslumbrar a todos à frente das TVs de plasma (nova vetede tecnológica desta copa) foi-me furtada por uma ética religiosa? E alguém pode, por favor, dizer ao pastor Kaká que ele cometeu um pecado quando injustamente fechou o grupo e não reconheceu os méritos dos meninos da vila ou as qualidades sua antítese futebolística (e social) Ronaldinho...
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