No senso populacional de 2003, Areiópolis tinha 10.296. Tá errado, porque me lembro da pesquisadora do IBGE que entrevistou minha família, uma conhecida nossa que colocou eu e meu irmão como moradores. Já não moro em Areiópolis faz 13 anos pelo menos. Meu irmão há mais tempo. Então, em 2003, Areiópolis tinha no máximo 10.294 habitantes. Consultei o IBGE e para 2007, a projeção era de que Areiópolis tivesse 10.630 habitantes. Os órgãos oficiais supõem que a cidade está crescendo. Do senso anterior para este a cidade diminuiu, acredito que a cidade esteja encolhendo. Mas, quem poderá dizer certamente sobre as estatísticas da cidade é a pesquisa censitária deste ano.
Independentemente da quantidade de habitantes, Areiópolis é uma cidade boa. E tem melhorado na medida em que as políticas públicas surtem mais efeitos. Tem um índice grande de urbanização de praticamente 85% da população e um taxa de alfabetização em 87% - todas as escolas são públicas. Tem programa de saúde da família, ajuda ao idoso, acesso ao esporte, escolas de ensino fundamental e médio, mas poucos empregos. Areiópolis depende e sempre dependeu da economia regional do centro-oeste paulista.
Uma das vantagens de sair de uma cidade pequena e depois se tornar pesquisador é que boa parte do que pesquiso hoje pode ser visto através de recordações. Suponho que quando a pesquisa não explica o cotidiano, não serve para muita coisa a não se empilhar papéis. Mas, as boas pesquisas nos dão um bom parâmetro da realidade. Quem conhece ou já viveu no interior de São Paulo e leu Os parceiros do rio bonito de Antonio Cândido confirma o quão precisa foi a descrição, quem sequer pisou na região, com a simples leitura da obra pode ter uma boa idéia do que é o caipira paulista descendente da formação sedentária do bandeirante nômade.
Lembrei de Areiópolis que (justa ou injustamente) pouco cito neste blog porque dias atrás se comentou sobre as constantes dores do Ronaldo. Calma, calma... muita calma nesta hora. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra, respondo antes que alguém já expresse essa pergunta que certamente veio à sua cabeça.

Areiópolis no inicio dos anos 1980 praticamente dependia economicamente da indústria cana-de-açúcar – Proálcool. Boa parte do emprego era na lavoura e a maior parte era corte de cana. Pau-de-arara são aqueles caminhões com carroceria que ficam pendurados os bóias-frias. A legislação aos poucos obrigou os empregadores a utilizarem caminhões cobertos, depois com assentos e agora são ônibus para transportar os trabalhadores rurais. É dificil encontrar um caminhão pau-de-arara hoje trafegando por lá. Mas, na década de 1980, dezenas, centenas, baixavam na cidade quando o dito coveiro começava a tocar ave-maria no auto-falante da sua locução da torre da Igreja.
Seis horas da tarde começavam a descer dos caminhões os bóias-frias. Vinham sujos de carvão de cana, cheios de roupas de flanela, botas, chapéu, panos amarrados no rosto pra proteger do sol. Sempre carregam um, dois, três facões nas costas com uma mochila barata e começavam a despejar dos galões de cinco litros que carregavam em uma das mãos a água que sobrou do dia sofrido de trabalho. Em uma das mãos despejando a água do galão, na outra segurando o ultimo facão que usou no dia. Uma pessoa que passa 10 anos neste trabalho envelhece demais, aparenta muito mais anos que tem e o rosto sofrido de uma pessoa que passou o dia na lavoura abaixo do sol ainda é facilmente perceptível pra mim.
A economia areiopolense girava em torno da industria da cana. Às 18hrs os bares começavam a lotar. Uma pinguinha pra relaxar. Outra pinguinha... mais uma. Bêbados, vários bêbados. Muitos problemas. Um bêbado sujo e fadigado, desgostoso por mais um dia massacrante de trabalho na lavoura, com um facão na mão, num boteco rodeado de outros bêbados armados... resultado? Sempre, sempre acontecia problema.
Quando criança eu ouvia histórias e não gostava do clima do final da tarde. Mas, sempre me atrasava. Passava pelo meio do povo nos bares bebendo, falando alto e discutindo. Era o horário que eu não gostava, mas era também um reflexo social da economia da cidade, coisa que fui entender muito mais tarde.
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