(Prezados Leitores, contamos com mais uma colaboração do professor doutor Marco Antonio Bettine de Almeira, da USP).
A GÊNESE DO FUTEBOL NO ESTADO DE SÃO PAULO
por Marco Antônio Bettine de Almeida*
Mês de Copa um pouco de cultura inútil.
A GÊNESE DO FUTEBOL NO ESTADO DE SÃO PAULO
por Marco Antônio Bettine de Almeida*
Mês de Copa um pouco de cultura inútil.
Somos bombardeados por informações referentes a Copa do Mundo. Agora Fernando Pessoa entrou na Jogada por ter nascido em um país da África, ele que muito escreveu sobre os ramos de Bétula das escolas inglesas, mas pouco se preocupou pelos caminhos da bola, agora é parte integrante da cultura futebolística. Como vale tudo (até Fernando Pessoa), darei minha pequena contribuição neste universo de inutilidade que acompanha o futebol.
Você sabia que os principais clubes de futebol foram fundados por pessoas que ocupavam cargos importantes em empresas de capital europeu? Estas empresas eram, na sua maioria, de transporte ou do setor de importação e exportação, mostrando que a gênese do futebol no Estado de São Paulo está vinculada aos clubes, mas também a todo o avanço econômico proporcionado pelo financiamento dos meios de transporte no Estado.
Os grandes clubes de futebol nasceram na Várzea do Tietê, nos caminhos das ferrovias para o nordeste e noroeste do Estado e no Porto de Santos. Ferroviária de Araraquara, Botafogo de Ribeirão Preto, Jundiaí Esporte Clube, Ponte Preta de Campinas foram fundados por engenheiros das companhias de estradas de ferro eminentemente inglesas.
Na cidade de São Paulo, a possibilidade de praticar modalidades esportivas no rio Tietê proporcionou grande contribuição no surgimento de agremiações, elas disputaram o primeiro campeonato paulista de 1902 (Esporte Clube Germânia, São Paulo Atletic Club, Internacional Esporte Clube e Esporte Clube Mackenzie).
No Porto de Santos em 1845 ocorre o primeiro jogo não oficial de marinheiros ingleses que aportaram na cidade praiana.
A expressão ‘futebol de várzea’ relaciona-se com os jogos populares praticados na Chácara Floresta várzea do rio Tietê, enquanto os jogos no Velódromo eram praticados pelos clubes de elite.
Futebol e Economia – O futebol é uma importante manifestação cultural e a cada quatro anos presenciamos a comemoração deste fenômeno mundial. Nas nossas terras este fenômeno insere-se nos hábitos, discussões e paixões.
O que torna intrigante é a Cidade de São Paulo ser o centro de irradiação do fenômeno futebol no Brasil, e não o Rio de Janeiro, Capital Federal, onde já havia o movimento clubístico com os clubes de regatas.
Fica clara a relação do desenvolvimento econômico do Estado, mas não como fato isolado, e a vinda de ingleses para a cidade que tinham o futebol como paixão. Mais do que analisar a gênese como algo estático dentro do modelo liberal do Estado é compreender a difusão cultural européia, particularmente a inglesa, como componente fundamental de construção social do Estado de São Paulo, mais precisamente a Cidade de São Paulo. Os recursos econômicos, políticos e culturais são fundamentais para haver as estruturas objetivas, sociais, e, subjetivas, para a divulgação e prática do futebol.
Analisando os clubes de futebol, percebe-se que a dimensão econômica é apenas parte de um processo maior de difusão e influência cultural. Os clubes eram locais de decisão política, freqüentavam as grandes famílias paulistas como: Prado, Albuquerque, Lins, Lanz entre outras. Percebe-se que o surgimento do futebol e o desenvolvimento de sua prática estão inseridos no processo de amadurecimento político das elites européias e na formação embrionária da elite paulista, trazendo não somente o capital, mas seu arsenal cultural e a certeza de formação de lideranças que tivessem relação com os acontecimentos sociais próprios da Europa.
Brasil país do futebol – O afastamento dos clubes de futebol paulistas com a elite nacional e estrangeira e a aproximação popular têm relação com a Semana de Arte Moderna e, posteriormente, o Estado Novo. A partir destes acontecimentos históricos o futebol nacional começa um processo de formação de uma identidade, como diria Oswald de Andradre uma brasilidade, até o Maracanasso e a certeza que o futebol deixa de ser um produto importando para tornar produto com o selo made in Brazil.
(* Professor Doutor da Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades. Pesquisador do grupo de Psicologia Política, Políticas Públicas e Multiculturalismo marcobettine@usp.br).
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