sábado, 5 de junho de 2010

Tendências sociológicas da MODA!

“Cocô Chanel” e “O diabo veste Prada” são apenas filmes, mas este blogueiro vai amplificar suas dimensões talvez em dimensões lógicas para além das pretensões dos próprios produtores. São casos passíveis de comparação, mas também podem compor a lista de inúmeros exemplos em que se demonstram uma diferença característica entre franceses e norte-americanos: o pragmatismo nos EUA e o engajamento na França. Enquanto os franceses revolucionam comportamentos através da moda, os estudo-unidenses ganham muito dinheiro através da moda.
Na temática do mundo da moda há diferenças interessantíssimas entre os filmes. A começar pelo centro da trama. O diabo veste Prada fala de relações profissionais e de poder. Cocô Chanel fala de preconceitos e atitudes. Um é ambientado na capital da moda do final do século XX, inicio do século XXI; o outro fala da capital da moda no inicio do século XIX, inicio do XX.

Cocô Chanel propôs roupas elegantes à mulheres, inseriu a calça na moda feminina. Propôs atitude à mulheres. Mais que isso, deslocou o lugar das mulheres e propôs um novo referencial para expressar a relação da mulher com a sociedade através de roupas básicas, porém elegantes. O que seria da moda feminina sem o pretinho básico? A revista Vogue, ao contrário, é basicamente um veículo que dita tendências, fala de moda para vender. Constrói e desconstrói gostos. Sua editora apresentada no filme, Miranda Priestly era o tipo ideal da profissional competente, viciada em trabalho e carrasca com seus subordinados.

Moda pode ser tendência ou pode ser atitude.

Moda tendência é aquele que se deve acompanhar uma indústria que se comunica de modo bastante particular e só aqueles que estão sempre atualizados e acompanhando como se manifestam a partir das referencias do campo. A moda não necessariamente evolui por esse processo, mas certamente se sofistica ou aprimora seus processos. Já a moda atitude é aquela inovadora ou revolucionária. Que não muda apenas as cores, comprimentos, composições e arranjos. Moda atitude é aquela que impõe ou é resultado de novo comportamento. Imagine o que foi para as mulheres a possibilidade de ser vestir com calças e camisetas, sem corpetes, vestidos armados, meias, citas etc?

O fato em que quero me concentrar, todavia, é que em qualquer um dos casos, moda pode tornar-se algo elitizado, para poucos; enquanto os mortais vivem das gafes. Em primeiro lugar porque estar na moda (excluso os movimentos esporádicos e impactantes que têm na moda uma identidade específica) ou vestir-se elegantemente custa caro - detona certo status que segrega. Por que em se tratando de tendência a moda se renova dia a dia. Independe das possibilidades de combinações, as roupas e acessórios custam caro e se fazem ainda mais caras quando são originárias das revistas. A industria da moda formou um circuito de consumidores que reproduzem as tendências, num processo imitativo (e/ou pseudo-criativo) que faz com que as pessoas que acompanham a propostas dos criadores e formam um circulo de adeptos que propagam os estilos.

Entretanto, também é preciso dizer que, a moda de tempos em tempos reinventa comportamento. Calça jeans, Mini-saia, biquíni são só alguns dos inúmeros exemplos. Moda também reflete movimentos mais complexos: os hippies, yupes ou grumges. Na política, a moda pode tornar-se importante também: os movimentos autocratas exigem uniformidade na vestimenta – e essa composição monolítica da moda tem um significado político importante. O padrão, os estilos ou as tendências ditam comportamento ou são resultados de movimentos.

No sentido moderno, na moda torna-se sobressalente sua importância econômica. Moda é hoje uma industria e este campo é antes de mais nada um negócio. E passou a ser uma necessidade básica de qualquer plebeu estar bem vestido. No sentido sociológico, acompanhar a moda ou não tem significados mais fortes que a vontade de se adequar. No geral, mesmo que no dia a dia as pessoas podem ter estilos, prevalece um jeito discreto ou pouco chamativo determinado pela tendência e seguindo as necessidades de trabalho das pessoas. E, no dia a dia não é o bom ou mau gosto que dita qual roupa vestimos, mas o quanto estamos dispostos a gastar (tempo ou dinheiro) nisto. As pessoas que querem explorar mais a modas, as tendências ou preservar sua personalidade ao vestir-se tem que gasta mais recursos e muito mais tempo que as pessoas que querem simplesmente estar apresentável sem que necessariamente a vestimenta seja o seu cartão de visitas.

Se você tem oito ou dez pares de sapato, a facilidade para compor roupas é alta. Mas, se você tem apenas um ou dois as escolhas se restringem. Neste caso, as pessoas partem do usual e só chegam ao sofisticado investindo recursos próprios. Parte-se dos tipos que podem ser usados em várias ocasiões e em distintos eventos, portanto, os tipos comuns, básicos, para os tipos sofisticados. Onde o uso é raro. Algumas mun Mesmo assim, a indústria da moda é poderosíssima na construção do gosto e consumo de toda a estrutura de funcionamento deste campo.

Imagine um homem que tem pouco dinheiro, só pode comprar um par de sapatos. Não vai inventar um caramelo (ou não deveria). A cor caramelo restringe o sapato a poucas possibilidades de combinação. Mas, sapato preto combina com qualquer roupa. Ou uma mulher que sonha em comprar um scarpin salmão. Vai precisar ter outro sapato, ou outros. Mas, economicamente é preciso elaborar bem as combinações. Além disso, acompanhar as tendências custa caro.

Se uma pessoa é restrita pela economia, mas tem desejos ou é bombardeada por uma tendência qualquer, seu guarda-roupas passa a ser uma colcha de retalhos da moda: é normal querer ter, mas não poder gastar tanto para sustentar todos os detalhes . Então, a questão do mau gosto tem alguma possibilidade de originar-se da contradição entre querer seguir a tendência da moda e a incapacidade de conseguir atingir todos os custos. Além disso, as roupas confeccionadas para eventos em específicos têm necessariamente determinadas regras que não devem ser quebradas. Assim, compor uma bermuda qualquer com uma camisa pode ser caótico.

As variações são enormes. Desde a personalidade discreta ao exibicionismo, passando pelos conservadores e progressistas, a moda atinge a todos - independente do desejo de participar. O mais normal é que no dia a dia as pessoas optam por produtos básicos. Mas, o desejo por compor ou participar de certo circuito que às vezes é restringido se manifesta dos modos mais diversos. Isso não impede que o comportamento dite tendências, ou que grupos excluídos do circuito façam moda em algum momento. Porém, o fato é que hoje (se as revistas monopolizam as regras da moda, diferentemente da espontaneidade que fazia a moda do passado), uma Miranda Priestly com seu poder de convencimento e seu domínio do circuito industrial pode sufocar até mesmo o brilhantismo de uma Cocô Chanel.

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