segunda-feira, 15 de junho de 2009

O que é Modernidade?

Todo jovem, vez ou outra, já foi taxado de moderno. Tudo que inova é, comumente, considerado moderno. Mas, o que é modernidade?
Modernidade é um tempo histórico. Como Idade Média ou Idade Antiga. Idade Média caracterizada pelos feudos. Idade Antiga estudada pela óptica de seus impérios. Modernidade grosseiramente pode ser vista pela emancipação da ciência.
É consensual dizer que historicamente a modernidade começa com a Revolução Francesa. É consensual dizer que a Revolução Francesa começa com a queda da Bastilha. Portanto, logicamente, seria razoável afirmar que a modernidade começa em 14 de Julho de 1789.
Exagero: ninguém decretou a modernidade. Nenhum fato inaugurou a modernidade embora a Revolução Francesa seja o evento que reúna os elementos mais característicos da modernidade como tempo histórico. Mas, devemos ter em mente que os eventos citados são ilustrativos do efeito que as idéias modernas tiveram sobre as sociedades. Idéias que demoraram séculos para amadurecer e se tornarem práticas sociais.
Por que a Revolução Inglesa da metade do século XVII não foi considerada moderna? Foi tão violenta quanto à dos franceses, onde reis que perderem suas cabeças na guilhotina. Por que uma e não outra foi considerada um marco diferenciador de período histórico? As idéias e as mudanças que levaram à Revolução Francesa formaram as sociedades modernas enquanto que o conservadorismo inglês manteve costumes sociais – no máximo ocorreram reformas – como a perda relativa do poder real e o governo do primeiro ministro – mas a autonomia do Estado em relação aos poderes tradicionais da igreja e da monarquia não foram conquistados imediatamente como aconteceria de forma abrupta um século e tanto depois na França (ou nos Estados Unidos, com a declaração de independência).
Mas, basta de contextualização. Sem uma base conceitual, historicamente pouco se explica da modernidade ou a confundimos com os eventos que a expressaram.
O surgimento do mundo moderno teve um contexto, mas suas características vão além. A modernidade é oriunda do domínio social da ciência sobre a religião. É uma característica das sociedades ocidentais e de seu domínio sobre o mundo material. É formalizado pela fragmentação das idéias, pelo predomínio do método e pelo ‘desencantamento’ do mundo. Um mundo desencantado é um mundo menos místico, com menos explicações metafísicas para os fenômenos. Neste período, em que o entendimento humano aderiu à ciência, o moderno é acreditar nos fatos e nas relações concretas; não nas coisas místicas e interpretações fantásticas. Na medida em que essas idéias desencantadas avançam, o mundo vai se tornando mais moderno. O subjetivo dá lugar ao objetivo, a subjetividade dá lugar à fenomenologia...
Quando um jovem é chamado de moderninho, ou um invento é considerado inovador, estamos falando de rupturas proporcionadas pela modernidade. Um mundo que se fragmenta e não é dominado mais pela idéia de que tudo é poder de Deus e nele tem sua origem.
Não e pouca coisa o que fizeram Galileu e Darwin – só para citar dois dos mais modernos pensadores do nosso tempo. Dizer que é a terra que gira em torno do sol e não o contrário e dizer que somos descendentes dos macacos são punhaladas ferozes nos nossos mais egocêntricos pensamentos. Somam-se a eles inúmeros outros pensadores e cientistas que demonstraram aos poucos que as leis da natureza respeitam regularidades que não de ordem divina, mas física.
Bem, então acreditar em Deus não é moderno? Desculpe frustrá-lo, mas nem um pouco... Alguém vai me dizer, mas a maioria das pessoas acredita em Deus, por que então podemos chamar o mundo de hoje de moderno? Se alguém se fez esta pergunta, teve um bom raciocínio. Por que a resposta a respeito do período histórico não está na crença de cada indivíduo, mas nas instituições que regulam a convivência mútua.
Ou seja, individualmente você pode acreditar no que quiser: em Deus, no criacionismo, em dragões, que o diabo foi anjo, em unicórnio, em bruxa, no pé grande, no coelhinho da páscoa, que o Hary Potter existe... enfim, a lista é grande. Mas, isso não impede que o Estado seja laico, que a ciência determine relações de causa e efeito e que as instituições sociais sejam independentes das crenças e trabalhem os fatos. O aceticismo institucional caracteriza a modernidade.
Agora podemos voltar a discutir: por que a Revolução Francesa foi moderna e a Revolução Inglesa conservadora? Os ingleses mantiveram o status quo, ou seja: a relação com a igreja, com os aristocratas, com os nobres – apenas destituíram o rei e o condenaram a morte pra ele não voltar. Mas, até mesmo a instituição real permaneceu. Tanto que a Inglaterra tem rei até hoje. Já os franceses, elevaram ao poder máximo o parlamento e em oposição acabaram com a monarquia. Basearam-se na tripartição e independência dos poderes. Judiciário autônomo, laico e científico – materialista. Instituíram a res pública (coisa publica) recorrendo à neutralidade do Estado e do código civil: ninguém, nem mesmo os nobres ou a Igreja, está acima do código de cidadão que rege a sociedade.
Por isso a história é importante. Por que não basta eu ter idéias, é preciso que a sociedade as assuma para que isso se torne factualmente relevante. A modernidade deve ser entendida com um processo de institucionalização das idéias científicas.
Maquiavel, por exemplo, foi o primeiro pensador político que temos registro a discutir idéias modernas como a separação da política e da moral cristã. Foi perseguido, difamado e marginalizado por autoridades da Igreja. Séculos depois, suas idéias foram incorporadas nos sistemas políticos. Era um pensador fora do seu tempo, mas se a história tomasse outro caminho, talvez não o considerássemos injustiçado hoje.
Ter determinadas crenças ou convicções individuais não faz história. Mas, quando essas crenças são assumidas como um projeto político coletivo, então a história já começa a mudar. Mas, só muda de fato quando um projeto político novo assume institucionalidade. Veja: se digo que matei porque estava possuído pelo demônio, religiosamente tenho um fundamento externo para meu ato e não necessariamente devo ser punido por isso, e passar por um exorcismo ou coisa parecida pode salvar minha alma. Mas, se o judiciário se baseia em fatos e não em crença, os motivos que te levaram ao ato perdem força diante do ato em si. Isso é uma revolução institucional e tanto. Isso é o que estou chamando de um projeto baseado em fatos, evidências e materialidades assumir o lugar de crenças e suposições.
Portanto, não se analisa um tempo histórico pelas idéias de indivíduos, mas pelas instituições que o compõem. Não se pode entender um período pelas partes e sim pela ordem coletiva. Sendo assim, como paradigma dominante, a modernidade é um período histórico em que o mundo se fragmenta em esferas sociais autônomas, com racionalidades próximas e cada vez mais desencantadas de um mundo místico e religioso. Modernidade é constituída por uma freqüente mudança de valores e interpretações, sempre puxada pelas cosmologias científicas.
Seriam os cientistas os profetas do mundo moderno? Há quem diga que sim...
esta postagem é dedicada a xisxis.wordpress.com

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3 comentários:

Isis Nóbile Diniz disse...

Interessante a forma como você analisou e ligou os fatos históricos!!!

Acho que fico presa ao pensar em modernidade. Aparece na minha mente a Semana de 22.

Só que o momento atual me parece uma pós-modernidade. Algo robótico e científico junto. Difícil falar sobre o tempo em que vivemos...

Unknown disse...

!!!!!!!!!! nada ve pora eh um cu essa pesquisa merda fdp!!!!!!!!

Anônimo disse...

Até que enfim acho uma definição de modernidade mais clara.òtimo pontuar que ideias individuais não tem forças para caracterizar um peiodo histórico.