
Esta postagem corre o sério risco de virar uma discussão sobre relacionamentos. Não é o caso. As perguntas que seguem vêm estimuladas pelo livro de Stefan Zweig: “24 horas na vida de uma mulher”. Notadamente, na introdução de Lya Luft para a coleção de bolso da LP&M, a tradutora esclarece que Freud apreciava muito este texto. Não é pra menos: mais do que uma discussão a respeito da condição da mulher, o texto fala de atrações, traumas e tratamentos que a psicanálise é a fonte mor.
Vamos aos fatos: bem hospedados em um hotel de Monte Carlo, um grupo distinto de nobres e/ou burgueses presencia o sumiço de uma mulher. Esclarecido o acontecido - ela foge e deixa uma carta ao marido contando que o abandonou, deixou os filhos, a fortuna e a honra do nome (houve época em que isso era importante), para aventurar-se junto há um jovem que conheceu menos de 24 antes no mesmo hotel - começa então uma discussão de cunho moral a respeito do caráter daquela mulher.
Vamos aos fatos: bem hospedados em um hotel de Monte Carlo, um grupo distinto de nobres e/ou burgueses presencia o sumiço de uma mulher. Esclarecido o acontecido - ela foge e deixa uma carta ao marido contando que o abandonou, deixou os filhos, a fortuna e a honra do nome (houve época em que isso era importante), para aventurar-se junto há um jovem que conheceu menos de 24 antes no mesmo hotel - começa então uma discussão de cunho moral a respeito do caráter daquela mulher.
Este é o mote do livro: pode uma mulher abandonar toda uma vida que construiu (a família, o marido, os filhos, a fortuna, a dignidade) para entregar-se a um homem que acabou de conhecer e apenas flertou com ele?
O grupo de desocupados no qual se incluía o autor da obra se pega em uma discussão acalorada sobre o assunto e o único que defendeu a posição da mulher foi o narrador do livro. No início para contrariar, depois por achar injustas as acusações sobre a não mais distinta senhora que tomou tal iniciativa.

Julgar? Como? Quem assistiu “De olhos bem fechados”, de Stanley Kubrick, talvez se lembre do relato de Alice (personagem de Nicole Kidman): entre um trago e outro na maconha, conta ao marido Dr. William (vivido por Tom Cruise) que em uma das férias do casal, ela teria fugido com um marinheiro hospedado no mesmo hotel, se ele a aceitasse. O casal à época ‘queridinho da América’ (América deles) divorciou-se tempos depois daquele filme maluco. Se há relação de causa e efeito entre divórcio e roteiro? como podemos saber... ?
Voltando ao livro de Stefan Zweig, a história ganha ares mais instigantes quando em meio ao apaixonado debate entre os casais e o narrador, Mrs C. – uma distinta senhora de comportamento reservado, modos refinados, cultura exemplar e fala mansa – interrompe para explorar melhor as posições em favor da mulher julgada. Mrs C. “elege” nosso narrador como seu “terapeuta” e o livro tem outro desenvolvimento. Não vou contar aqui o que se desdobra desse entrelaçamento. Deixo ao internauta a própria sorte.
De tudo isso, mais que a psicanálise absorvida do livro, as questões morais me são muito interessantes. O que leva uma pessoa a buscar sua felicidade? O que aproxima os sexos? Qual o fundamento da paixão? Que sacrifícios são necessários para encontrar-se com seus próprios desejos? Tempo: elemento fundamental nos jogos da paixão. Precisamos de muito tempo para reconhecer no outro nosso destino? Ou sabemos disso de antemão? Mas, se tem uma lição interessante para tirar de toda essa história é que o machismo foi fator importante na opressão às mulheres e tantos as formas que este comportamento adquiriu como as reações a esse modo de vida podem ser as mais variadas.
Cá entre nós, não existe resposta ou filosofia pronta para o velho dilema cartesiano entre razão e paixão. Sem impor moral a tão delicado assunto faço necessário reproduzir o gesto amável de compreensão do último ato do nosso narrador à Mrs C. – aqui entendida como uma elegante mulher de coragem: “Então curvei-me e beijei respeitosamente sua mão murcha, que tremia de leve como uma folha de outono”.
POSTAGEM RELACIONADA: "Dica de Leitura: Stefan Zweig"
2 comentários:
Quantas e quantas mulheres guardam segredos como este por receio do preconceitos e valores impostos pela sociedade. Mas quem disse que os homens não também os seus segredos?
Quantos já não tiveram um pequeno frisson por uma desconhecida e teve o desejo de ajudar? Apenas para minimizar o seu sofrimento?
;)
Quantas e quantas mulheres guardam segredos como este por receio dos preconceitos e valores impostos pela sociedade?
Mas quem disse que os homens não também os seus segredos?
Quantos já não tiveram um pequeno frisson por uma desconhecida e teve o desejo de ajudar, apenas para minimizar o seu sofrimento?
;)
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