
Significa que em um lugar pequeno não são poucos, mais muitas as idiossincrasias desenvolvidas. É mais fácil a criação de um código em comum expandido à comunidade. Significa também que a identidade é mais evidente. E identidade significa que os seus são iguais e que os iguais se diferenciam dos outros.
Quase sempre o pensamento provinciano é confundido com o pensamento conservador. Enquanto que uma coisa não necessariamente quer dizer outra. As pessoas provincianas são àquelas que têm seus laços de sociabilidade bem firmes. No caso do pensamento conservador não é uma questão de laço, mas de concepção de mundo. Os conservadores acham que seu modo de vida atual – e somente ele – é o correto. É bem verdade, justiça seja feita, que muitos dos provincianos são conservadores. Mas, também é verdade, justiça seja feita, conheci muitos provincianos que apreciavam seu modo de vida que eram extremamente abertos.
Uma característica básica do cidadão provinciano é que ele desconfia do diferente até ganhar segurança. Depois de conquistada a confiança de um areiopolense, a máxima, minha casa é sua casa e o que é meu é seu, esse desapego ao material e a importância que se dá as relações de convívio é traço marcante. Público e privado se confundem, não há muita distinção, as pessoas não são reservadas, não existe espaço que seja exclusivamente seu. Aquela história que na adolescência me incomodava um pouco, dos próximos e dos não tão próximos dando pitaco na sua vida, bem hoje eu entendo como uma característica disto que estou definindo como o pensamento provinciano.
A questão da defesa, da desconfiança, do não se sentir muito à vontade com o diferente está provavelmente num ato inconsciente do precaver-se contra o invasor. Seria uma tentativa de, antes de aceitar alguém como parte da sua comunidade, estudar e investigar se este outro não está ali para causar discórdias ou distúrbios locais. Tão logo esta dificuldade passe e o estranho seja aceito posto que também aceitou os procedimentos locais e respeitou a hierarquia, então tudo se acomoda e a distancia inicialmente imposta se dissolve.
Em geral não há tempo para que um estranho faça parte da comunidade. E, em geral, os estranhos são invasivos quanto a costumes e hierarquias. Ser totalmente aceito e integrado é um processo lento mesmo que inicialmente pareça fácil. Quando eu era criança e jogava futebol, sempre tínhamos os mesmos colegas que jogavam. Havia ali uma turma que se integrava. Ao menor sinal de surgirem outros jogadores, era preciso que soubéssemos quem e o que o trouxe ali, que tipo de jogador era, se seria leal ou desleal, se respeitaria a hierarquia de pode local, etc. Na medida em que tudo isso é superado, o novo membro da turma ganhava espaço e tinha sua posição. Havia um equilíbrio que quando colocado em movimento queria buscar reequilíbrio. Nem sempre o novo jogador era aceito e para retomar o equilíbrio era preciso sacá-lo da jogada.
Mas, preciso lembrar que tudo isso é diferente de conservadorismo. Comunidades como Areiópolis, e acredito que muitas outras, desenvolveram ao longo dos anos uma história própria, personagens próprios, modo de vida particular. E, assim como qualquer sistema aberto, tendem a lidar com a entrada de novidades de forma muito particular. Isso tudo é diferente de um sistema conservador simplesmente, porque o provincianismo tem a ver com os laços de sociabilidade locais que dão suporte social àquela comunidade e não com uma repulsa ao modo de vida estrangeiro. Custou-me anos de estudo e isolamento para diferenciar uma coisa da outra.
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