quarta-feira, 7 de março de 2012

Considerações sobre o federalismo brasileiro: de Estados Unidos do Brasil para Republica Federativa do Brasil

Federalismo é a fração da Ciência Política que estuda o contrato entre os entes federados, ou seja, é o estudo da relação entre as autonomias governamentais dos Estados. Governos centrais e províncias, governos federados e estados autônomos, municípios, às vezes vilas. Dependendo do poder e autonomia de cada uma dessas frações da nação, podem ser considerados entes federados.

No Brasil, por exemplo, há uma ambiguidade na literatura da Ciência Política para saber se se considera o município como um ente da federação ou apenas como um prolongamento das relações dos Estados. Para ser um ente federativo é preciso ter autonomia administrativa e política e jurídica. Os municípios têm relativa autonomia política e administrativa, mas não tem autonomia jurídica. A justiça no Brasil é federal ou estadual, mas não tem nenhuma influencia municipal. Neste ponto alguns cientistas políticos podem defender que o federalismo brasileiro não se estende ao município, outros podem defender que embora esse critério não seja preenchido, as autonomias política e administrativa com que contam o município já podem dar a ele condições para considerarmos como um ator no jogo da composição da nação.
Polêmicas à parte, a história do federalismo brasileiro é curiosa. Começamos como província de Portugal, passamos a vice-reinado, veio a independência e tornamo-nos uma monarquia, finalmente em 1889 veio a república. Nossa primeira constituição republicana nos definia como Estado Unidos do Brasil, numa clara imitação do sistema confederado dos Estados Unidos da América. Apenas em 1967 em plena ditadura militar é que o Brasil torna-se República Federativa do Brasil. Entender essa história é fundamental.

A primeira Constituição republicana de 1891 dava autonomia aos estados. Quem não se lembra da república “café com leite” estudada nas escolas? Os orçamentos, o poder administrativo a autonomia neste momento era exercida nos estados, a União era simplesmente um coordenador da integração nacional e não o principal ator da política brasileira. Desde 1930 que a autonomia estadual que caracterizou os Estados Unidos (ou seja, uma união dos Estados) não se fazia tanto assim. Vargas, ao assumir o poder, centralizou decisões em sua mão, nomeou interventores nos estados e centralizou leis e tributos. Desde o primeiro período Vargas (1930-1945) não se teve efetivamente uma União dos Estados no Brasil. Mas, foi só na Constituição de 1967 que o nome mudou. Os militares, ao tirarem poder de outros estados, criarem territórios e cancelarem eleições majoritárias, diminuíram ainda mais a autonomia dos Estados e oficializaram esta decisão promulgando uma Constituição onde a nação passaria a se chamar: República Federativa do Brasil.
Não é apenas a mudança de um termo: Estados Unidos para República Federativa. É também uma mudança política substantiva. Enquanto os Estados Unidos tem mais autonomia, inclusive jurídica, a República Federativa confere mais poderes ao Estado centralizado. Esta é uma diferença fundamental entre Brasil e Estados Unidos. Lá, o sistema é federal é tão diferente que um candidato pode ser mais votado no geral e não ser eleito em função da proporcionalidade de delegados. Foi o que ocorreu em 2000 quando venceu George W. Bush foi eleito presidente. Mesmo Al Gore tendo conseguido mais votos, Bush ganhou em número de delegados. Nos EUA cada estado tem sua constituição, cada estado tem sua lei e seus tributos próprios. Lá o sistema confederado expresso na palavra “União” é bastante típico. No Brasil, os poderes estaduais são submetidos ao poder central. Não há diferenças constitucionais ou jurídicas significativas entre os estados e o consenso é pela convergência, o que nos torna uma república federativa, que quer dizer que os entes subnacionais tem autonomia menor em relação ao ente federal.



A gafe do Serra não foi tão grande assim. Mas, é evidente que União e Federação não são "praticamente a mesma coisa". De qualquer modo, me parece mais crível acreditar que quando Serra era estudante, antes de 1967 (em 1964 já estava como presidente da UNE) ele deve ter aprendido que o nome de Brasil era "Estados Unidos do Brasil". Ao menos essa interpretação me parece mais crível que supor que o Serra seja um federalista que acredita na confederação de ‘estados unidos’.

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