sábado, 10 de dezembro de 2011

em breve, em Cuba!!

Quando eu disse à minha Mãe que eu tinha passagens compradas para Cuba sua reação não foi das mais amigáveis:
- Mas Cuba é uma ditadura!!
- E daí?
A velhinha tem pouca educação formal, mas tem muitas leituras e é fuçada. Não desistiu fácil do argumento...
- E daí que eles não têm liberdade, não podem fazer o que querem, falar o que querem...
- Você tem liberdade?
- Eu tenho...
- Então pode comprar uma passagem daqui pro Nordeste amanhã e tirar uns diazinhos de férias?
- Não posso porque não tenho dinheiro... O semblante já havia mudado na resposta, de tom inquisidor ela acusara o golpe. Percebeu rápido que falar sobre liberdade não é tão simples.
- Pois é, lá todos tem as mesmas condições econômicas embora politicamente o governo imponha restrições. Vou conhecer Cuba justamente porque é diferente do Brasil...

O diálogo terminou com um prestatenção típico de mãe:
- Vê se toma cuidado. Do jeito que você é bocudo, bem capaz de te prenderem lá. Vai ficar falando mal do governo...
- Uaiii. Se me prenderem, o máximo que vão me fazer é mandar de volta. Mas, isso já vou fazer por minha conta mesmo.

E a convera não se prolongou. Tudo bem que preguei uma peça básica de Ciência Política em minha mãe, mas isso não se conta. Apresentei a ela um velho dilema a respeito das vontades e liberdades políticas: a relação entre LIBERDADE de ação e PODER para agir. Não adianta nada ter liberdade para agir e não ter condições sociais para isso. São o que alguns politicólogos de plantão chamam de liberdade formal versus liberdade real. Objetivamente a ideia de liberdade sempre deve se restringir quando aplicável à prática social. Ser completamente livre só mesmo Robinson Crusoé que estava sozinho na ilha. Sociedades sempre impõem restrições às liberdades individuais. A pergunta é: qual tipo de restrição enquanto comunidade estamos dispostos a nos submeter. Minha artimanha foi usar a restrição econômica do sistema capitalista periférico brasileiro como contraponto às restrições políticas do regime cubano.

Depois foi a vez de conversar com um amigo gay sobre Cuba. Em resposta ao perguntar o que eu iria fazer nas férias, contei da minha viagem ao Caribe. Ele teve um leve toque de indignação, nada além de um susto, mas o suficiente para eu lembrar que Cuba não é uma rota privilegiada da diversidade sexual. O socialismo marxista dos anos 1950 era bastante concentrado na contradição trabalho/capital, mas pouco atento às outras contradições sociais como gênero, cor, etnia etc. São várias as histórias de repressão do regime em relação aos gays. "Morango e Chocolate" é um filme clássico sobre o escritor que se envolve com um estudante e o caso é condenado pela sociedade cubana.

A esse respeito, me informou uma amiga jornalista que Mariela Castro, filha de Raul, tem sido uma militante importante para rever esta realidade daquele país. Defende, por exemplo, o direito ao sistema de saúde cubano melhorar as condições das operações de mudança de sexo na assistência médica cubana. Essas operações já existem e são gratuitas em Cuba, mas são extremamente burocráticas.

O fato é que este assunto é pouco tratado por nós brasileiros. Mesmo sobre a situação doméstica, quiçá de lá. A respeito das demandas GLBTS Cuba tem avançado.  Mas, fica marcada a propaganda de um regime homofóbico que durante décadas condenou os gays. Isso já deu pano pra manga, é só lembrarmos do escritor cubano Reynaldo Arenas, que escreveu “Antes que Anoiteça”, o dissidente gay que fala das dificuldades que a ilha apresenta...

Sobre outros aspectos, porêm, a ilha ainda é emblemática. O regime conta com inúmeros impasses e infortuitos. Duas moedas, uma para nativos outra para turistas. Uma relação dificil com o embargo estadunidense e os dissidentes de Miami. Enfim, assunto sobre Cuba nunca se falta.

Vários amigos, conhecidos, próximos e distantes têm histórias sobre a Cuba. A ilha tem muita mística, exagero e paixão que a envolve. Realidade mesmo, diante de tantas impressões, é dificil uma consensual. A meu respeito o que posso dizer é que minha decisão de conhecer a ilha veio depois que ganhei um processo contra meu banco por conta de uma lambança que fizeram ao resolver o problema de clonagem do meu cartão de crédito. Resolvi que o dinheiro do sistema financeiro brasileiro ia ser todo destinado à distribuição de renda e entregue a Cuba - que, se já não tem mais aquele ideal marxista revolucionário, pelo menos funciona ainda como um contraponto ao modismo de classe média do restante da América Latina... Caribe por Caribe, que me perdoem os turistas, mas não vou pra Cancun.

... então: Hasta breve compañeros!!!

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