sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Modesta proposta aos uspianos

(O artigo abaixo foi enviado ao "Jornal da Tarde" no fim de semana que antecedeu a ação de reintegração de posse da USP que usou a tropa de choque contra os 73 amotinados da reitoria. Foi publicada posteriormente, porém, no dia 18/11/2011 na página A2 do JT. Talvez a opinião abaixo já não contemple a visão do autor; dados os novos acontecimentos)

por Luís Fernando Vitagliano


Aos olhos da população, os alunos da Universidade de São Paulo (USP) parecem um bando de arruaceiros rebeldes sem causa. Se tomarmos pelas imagens e pelos relatos midiáticos, é assim que se passa. Pior: três meses atrás alunos da mesma universidade fizeram protestos para aumentar a segurança interna depois de um latrocínio ocorrido no câmpus. Como então esses jovens rechaçam o policiamento agora?

Se fizermos uma enquete com os alunos da USP, perguntando se querem ou não a Polícia Militar (PM) no câmpus, ganharia o “sim”. Mas, as representações estudantis marcadamente politizadas têm uma desconfiança da PM e são contra sua presença no patrulhamento da cidade universitária. Obviamente, argumentam que segurança não se faz necessariamente com a PM(eu argumentaria que a segurança privada não é uma solução).

O importante é entender esta contradição: porque estudantes politizados seriam contrários à rota ostensiva da polícia no câmpus? Seriam eles, como quer crer boa parte da classe média paulista, um bando de playboys filhinhos de papai interessados em fumar maconha e usar drogas pura e simplesmente?

Dizer que sim seria reduzir um debate necessário a uma discussão sobre mimos e privilégios. No afã de mostrar resistência, os alunos abusaram da hostilidade. Mas, se lembrarmos de que a polícia brasileira é responsável pelas mais diversas formas de violação dos direitos civis, perceberíamos que há motivos de sobra para os protestos na USP.

A polícia brasileira é caracterizada por despreparo no tratamento do cidadão, comportamento truculento e uma coleção de histórias de abuso. Basta olhar números, comparar dados e observar os jornais. E se esse caso de conflito entre PM e estudantes começou na USP por conta de três jovens que fumavam maconha, a relação entre as duas instituições é muito mais antiga.

Ao nos apoiarmos na história, caro leitor, os estudantes estão certos. Talvez não nos seus métodos, mas certamente em suas queixas. As universidades eram redutos de resistência durante o regime militar. Momento em que ser de esquerda era crime. Muitos militantes da resistência à ditadura se refugiaram nas universidades para escapar da repressão e dali organizar a resistência para defender a democracia.

Hoje, as universidades ainda tentam ser alheias às formas de repressão do Estado. Isso sim é um erro: protestar só quando o problema chega ao câmpus. Minha proposta aos uspianos é que não devem se amotinar em prédios públicos, mas organizar-se para mostrar à sociedade brasileira que o papel da polícia é de respeito e segurança para a comunidade e não insegurança e repressão, como o comportamento que a instituição herdou dos tempos da ditadura.

Um comentário:

Luis Vita disse...

Quando enviei o artigo ao Jornal não fazia a menor idéia que o Reitor da universidade ia jogar a tropa de choque pra cima dos alunos. Evidentemente, discordar da ocupação não significava aceitar que esse problema interno fosse resolvido dessa forma.
De qualquer maneira, os jornais tem mantido a campanha contra os alunos e a população, de modo geral, se colocou a favor da polícia. Esse cenário e preocupante e não ajuda em nada a discussão que se pretende