segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O que têm em comum uma macaca chamada Belle, o suco de laranja brasileiro e a nona sinfonia de Beethoven?

Comecemos com outra pergunta: o que tem em comum os argentinos Carlos Saveedra Lamas, Bernardo Alberto Houssay, Luis Frederico Leloir, Adolfo Pérez Esquivel, Cesar Milstein; os Chilenos Pablo Neruda e Gabriela Mistral; o Colombiano Gabriel Garcia Márquez; o Peruano Mario Vargas Lllosa; os mexicanos Alfonso Garcia Robles, Mario J. Molina e Octavio Paz; os gualtemaltecas Miguel Ángel Asturias Rosales e Rigoberta Menchú e o costa-riquenho Oscar Arias Sánchez?
Acertou quem disse que todos são latino-americanos e foram importantes em seus respectivos países. Acertou também que disse que todos foram ganhadores do Premio Nobel. São 5 premios a argentinos (dois da paz, dois de medicina e um de química), são dois para chilenos (ambos de literatura), outros de literatura para Colombia, Perú, Guatemala e México; Guatemala e México tem prêmios da paz. Enfim, Tirando a argentina que teve médicos e químico ganhando nobel das ciências, na primeira metade do século XX, quando o país ainda pertencia aos índices de vida europeia, na América Latina se valoriza esforços por direitos humanos, paz e literatura.

Mas, por que o maior país da América Latina, o que tem mais universidades, com melhores qualificações em pesquisas, com mais dinheiro e IDH nunca teve um ganhador do Nobel? Um brasileiro jamais ganhou o premio. Essa sina pode acabar. Temos hoje três possíveis candidatos: um para a Paz – sim, senhoras e senhores, Lula já foi indicado e pode ganhar um dia. Se acredito? Não, não acredito, mas tem chances. Outro nome é o de Paulo Coelho. Faz sentido? Se alguém que publica livros originalmente na língua portuguesa pode, este alguém é ele. É o escritor mais lido e traduzido do Brasil. Ainda acho mais difícil. O nosso terceiro candidato é o neurocientista Miguel Nicolelis. Este sim, acho que está mais perto que os outros de ganhar o prêmio.

Miguel Nicolelis estudou medicina na USP e realiza pesquisas sobre neurociência na Universidade de Duke nos EUA e já trabalhou no MIT. Desenvolve trabalhos sobre a relação entre cérebro e máquinas, o que ele chama de ICM (interface cérebro máquina) e que podem ajudar a entender melhor as transmissões neurológicas humanas.

Nicolelis compara o cérebro a uma sinfonia: mesmo que cada instrumento (neurônio) esteja tocando uma partitura, a orquestra (sistema nervoso) compõe uma sinfonia. Ou seja: não é o estudo do neurônio que faz-nos entender as correntes neurais e as ordens cerebrais (como supunham os ‘reducionistas’), mas todo um código neurológico que faz a corrente cerebral dar ordens. Decodificar, transformar em binários e recodificar é o papel das suas máquinas que respondem aos comandos da ‘sinfonia’ cerebral.

Seus resultados são expressivos. A macaca Belle foi capaz de mexer um braço mecânico apenas com vibrações cerebrais emitidas e que foram decodificadas por sua IMC feita para gerar os movimentos do membro. Cada vez que Belle entrava na sintonia correta para execução do movimento da IMC era recompensada com suco de laranja.

Alguns resultados já foram publicados na revista Nature. Nicolelis está entre os cientistas mais importantes do mundo hoje. Estou lendo seu livro “Muito além do nosso eu” – uma descrição do seu ambicioso projeto de usar as descobertas da neurociência para revolucionar a humanidade. Garante ele que nada há de ficção cientifica em suas conjecturas. Difícil para um leigo e cético sociólogo pensar tão grandiosamente sem levar em conta questões de poder que permearam o mundo pelo menos desde as origens da humanidade.

O que nos aguarda o mundo a partir das descobertas da neurociência? Não podemos prever. Assim como não foi desejo de Einsten que descobrissem, a partir da sua teoria, a bomba atômica. Dizem também que Santos Drummond morreu deprimido depois de ver seu invento ser usado como foi na I Guerra Mundial. Da mesma forma qualquer criador não tem domínio sobre sua criação... por mais bem intensionado que tenha sido o invento ou a ética inventiva.

Mas, pense que o primeiro gol da Copa do Mundo de 2014 pode ser marcado por uma criança brasileira, tetraplégica que usaria um exoesqueleto controlado por suas ondas cerebrais e desenvolvidas a partir dessas novas teorias da neurociência com base nas descobertas de Miguel Nicolelis. Esta proposta levada cada vez mais à sério me faz pensar que o Homem de Ferro da Marvel, este sim pode deixar de ser ficção científica.

Nenhum comentário: