domingo, 31 de julho de 2011

Capitão América: o filme

Clichê? Um cidadão estado-unidense que salva o mundo. Simples assim... heróis, vilões, malvados e bonzinhos. Todos esses ingredientes fazem um filme clichê. As cores da “América” no escudo, no uniforme e no capacete. Parêntese: minha América é verde. A deles é azul, vermelha e branca. Fui assistir ao primeiro final de semana de “Capitão América” sabendo de tudo isso. E por que fui? Mais uma ovelha influenciada pela campanha midiática para levar os rebanhos de espectadores ao cinema?

Acho que não... não me sinto tão ingênuo assim. Fui mesmo conhecendo a história e pronto para me irritar com as apologias ao herói que veste a bandeira estado-unidense e transmite os ideais militares daquele país. Mas também fui pelos mesmos motivos que levou multidões ao cinema neste fim de semana: para ver um filme bem feito, tem efeitos especiais impressionante e que repete o roteiro em que o herói vence o vilão no final. E duvido que todas aquelas pessoas que foram ao cinema concordem com os ataques ao Afeganistão e Iraque. Duvido que apoiem as incursões na Líbia ou as praticas nas prisões de Guantánamo. Ao contrário, acredito, com uma margem segura a partir da observação, que a consciência do mundo ou a simples ignorância em relação ao que faz os Estados Unidos como potencia militar não impede ninguém de assistir até mesmo o Capitão América e estabelecer com um filme um seguro distanciamente da realidade.

Portanto, você que pensa em não assistir o filme como forma de não cooptar com o que se faz em hollywood, tem lá seus motivos. Mas, se fizer com isso uma apologia contra os alienados que assistem... sinceramente meu amigo perde tempo ao condenar a diversão alheia. Portanto, este é um texto aos expectadores do filme, àqueles que foram assistir mesmo conhecendo os clichês e que conseguem se divertir sem a menor ilusão de que aquelo transmitidos a partir dos Estados Unidos via poder brando pouco tem a ver com a realidade do mundo.

Se a produção se preocupou em não difundir "o modo de vida americano" isso não quer dizer que funcionou esta nova estratégia em amenizar os clichês. Mas, as tentativas estavam evidentes. O uniforme do Capitão América foi ofuscado, obscureceu. Style? Claro que estilo tem relação porque sinceramente a moda dos anos cinquenta e sessenta com aquelas cores viva tá bem difícil de sustentar. Mas, isso também pode ser uma tentativa de amenizar os símbolos (ou mundializar o símbolo do soldado estado-unidense e internacionalizá-lo). De outro lado, todos sabemos que não cola a história do soldado que representa os ideais do mundo. Acho que eles também estão tomando consciência do quão isso é ridículo. Talvez tenham tentado apenas dar um ar mais realista ao soldado que usa cores frias e camuflagem na tentativa de surpreender o inimigo, necessidades que – claro – não necessariamente se aplicam ao Capitão América.

No filme foi interessante notar como é eficiente para trabalhar as ilusões de crianças de doze ou treze anos. Mas, criar um herói não é o suficiente para lidar com adultos e muito menos com soldados. As propagandas dos senadores para o alistamento e as meninas de saia dançando a estilo teamleaders são caricaturas bem listradas...

O mais interessante na construção do herói neste caso não é a roupa, os ideais, a forma e sua inserção, mas como sempre: sua origem. Menino pobre do Brooklyn, frágil, que tem sua força não nos atributos físicos, mas na inteligência e na vontade de servir ao país. Esses são os ideais necessários a qualquer criança que pega uma tampa de lata de lixo, transforma em escudo ao pinta-lo de vermelho e desenhar a estrela branca ao meio. Qualquer então um pode ser o Capitão América em seus sonhos. Desde uma criança pobre com capacete feito de papel e um escudo feito de tampa de lixo – alias este é o alvo mais difícil de alcançar – até a criança rica que compra a fantasia toda no shopping. O Capitão é a criança normal, frágil, que se coloca a serviço do bem, dos ideais do seu país. E sempre a ciência tem um papel fundamental para a construção do soldado de guerra.

Já a construção do vilão também é bastante contemporânea: uma facção do mal dentro do regime de um país.  O filme praticameE o bordão da organização terrorista é bem interessante: você mata um e dois tomam o seu lugar. Aí sim que a aproximação com a realidade é perigosa: o que seria isso se não as atuais células terroristas que se escondem por trás de regimes de países em qualquer lugar do mundo, mas tem só como objetivo destruir os EUA e suas cidades? Atualmente a guerra não é contra um país ou um regime político, a guerra dos soldados dos EUA é contra o terrorismo que, como se diz no próprio filme “não há um alvo específico, o alvo é o mundo”. Só ai que líder Capitão América entra pra lutar em função de ideais contra aqueles que não tem ideal e se colocam ao lado de uma ciência associada ao ocultismo para construir armas que possam abalar o mundo.

Simples assim, como todos os outros filmes maniqueístas, Capitão América reduz o debate sobre ideologias na luta entre o bem e o mal. Como eu já disse, àqueles que já têm aversão ao mesmo enredo, não estão perdendo absolutamente nada ao ver o filme. Mas, àqueles que ainda insistem em ver um filme que o mocinho mata o bandido e beija a donzela, Capitão América repete a fórmula que é sucesso desde o wester – é só trocar o índio pelo terrorista.

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