sábado, 19 de março de 2011

Confetes de Carnaval - Parte II

A reconstrução de São Luiz do Paraitinga


São Luiz do Paraitinga foi notícia no carnaval de 2010, não boa noticia, mas trágica, as chuvas que atingiram a cidade provocaram a cheia do rio que dá nome à cidade e, além de problemas com a enchente, destruição do patrimônio histórico e arquitetônico local. Oito dos seus edifícios históricos foram abaixo devo à enchente.

Este ano o Carnaval da Reconstrução visava (para além do turismo e festas tradicionais) arrecadar fundos para as reformas em curso na cidade. Fachadas de casas e comércios, além de Igrejas destruídas estão em processo de recuperação e isso exige cuidados extras. Com este objetivo em mente, além da tentativa de organizar o Carnaval que recebe mais de 20 mil foliões em uma cidade com cerca de 10.375 (no Censo de 200 a cidade tinha 10.429 habitantes, diminuiu), o poder público local organizou uma estrutura que visava preservar a 'cidade histórica' e as obras de reformas, além de buscar alternativas para ampliar os fundos de reconstrução.

ABRE PARENTÊSE: de cidade pequena este pobre blogueiro entende. Areiópolis, minha cidade de origem, tinha em 2000, segundo o censo IBGE, 10.296 habitantes; em 2010, o censo apontou para 10.581 habitantes. Portanto, Areiópolis era menor que S.L. do Paraitinga em 2000, mas hoje já é uma metrópole mais populosa. FECHA PARENTESE.

Detalhes estatísticos à parte, o fato é que no carnaval mais de três vezes o número de habitantes costumava baixar para a cidade. E isso evidentemente traz algumas preocupações ou prejuízos logísticos. Somando o fato da infra-estrutura necessária para acomodar toda essa gente ao fato pluviométrico “chove muito no carnaval” à cheia do rio e às construções históricas que precisam de cuidado devido a idade frágil dos monumentos com ruas de paralelepípedo e tijolos de barro com mais de cem anos, temos ai uma bomba relógio que estourou em 2010.

Este ano a prefeitura tomou algumas medidas para prevenir-se da destruição que essa constelação de elementos humanos e naturais pode causar. Limitou-se o número de acessos de carros para 1.800. Cada automóvel deveria pagar uma taxa de 50 reais para estacionar nas ruas da cidade (custo da zona azul) e mudou a rota das famosas marchinhas, deslocando-as da “cidade velha” para a “cidade nova” – onda as construções são mais recentes e as ruas asfaltadas. A idéia era financiar a reconstrução dos edifícios prejudicados pela enchente do ano passado, além de preservar dos foliões o que já foi feito ao longo do ano.

Minha curiosidade a respeito do lugar aumentou desde as notícias e os vídeos de 2010. Tive a oportunidade de ver o Carnaval da Reconstrução uma tarde este ano. Além de achar a cidade pitoresca, muito bonita em sua arquitetura colonial e com a praça do mercado muito charmosa; tudo pequeno e acolhedor, a organização realmente faz do lugar um destino turístico. Percebe-se a preocupação em ordenar o acesso dos turistas: informações, infra-estrutura sanitária, calendário de eventos, comércios etc. Contaram que um aluguel de casa chega a custar cinco mil reais pelas noites de carnaval e que famílias em busca de ampliar suas rendas deixam suas moradias para alugar, se refugiando para outros cantos.

Algumas casas viram estacionamento, outros viram comércio e localmente cada um dá à seu modo dá um jeito de lucrar com o evento. Mas, percebi que não havia em nenhum lugar comercio informal de ambulantes, provavelmente isso foi decisão pública. Os estacionamentos locais, formais ou informais, custavam também cinqüenta reais - então, quem não quisesse pagar zona azul, podia estacionar nesses locais. Mas, não tinha como fugir, parou na rua paga e nos estacionamentos pagavam o mesmo preço. A diferença é que um ia pra recursos públicos, outro pra bolsos privados.

Logo que cheguei, percebi que um casal não tinha comprado o selo da zona azul e foi alertado pelo fiscal que poderiam ser multados por isso. O casal que primeiro fez-se de desentendido, depois passou a reclamar, até que tirou o carro do lugar e foi pra outro lado. As reclamações contra o fiscal eram bastante injustas, primeiro porque reclamavam das regras para uma pessoa que não tinha poder de discutir as regras, se faziam de desentendidos, reclamavam do preço, criticavam e em nenhum momento mostraram boa disposição para entender a situação da localidade.

Tenho uma certa resistência ao apreço pelos turistas - embora eu seja um viajante convicto, sempre que posso fujo do estilo turista de ser. Quando as pessoas saem de casa para visitar outros lugares, principalmente zonas turísticas têm que ter o vicio de acha que é injusto que os preços mudam. Ficam indignados com os preços mais altos. Mas, não se trata simplesmente de leis de oferta e procura, é também a dinâmica da economia local em cidades turísticas que é diferente. Uma lanchonete à beira da praia tem seu movimento avaliado entre 6 e 8 meses ao ano, enquanto que suas despesas tem os mesmos 12 meses de qualquer estabelecimento. Assim, os preços precisam ser ajustados aos custos. Fora os serviços públicos que precisam se adequar ao aumento da população, as questões da violência e os constrangimentos da população etc.

Mas, turista é turista, reclama se falta água, reclama se paga zona azul mais cara, reclama se a cerveja e a porção da beira da praia é mais cara e ainda faz o favor de emporcalhar a areia com seu lixo. É uma pena que falta muita consciência ao brasileiro para lidar com o turismo. São Luiz do Paraitinga é um exemplo de cidade onde o turismo é levado à sério pelos moradores e pelo poder público, mas nós turistas também precisamos colaborar respeitando as regras e buscando preservar o que é um patrimônio do nosso país, nossa beleza natural, natureza e um capacidade impar para o lazer e a diversão.

Nenhum comentário: