segunda-feira, 14 de março de 2011

Confetes de Carnaval - Parte I

Qual o sentido da vida?

Nem só de serpentinas vive um folião, mas também do papo furado sobre o sentido da vida num churrasco animado... Pois bem senhoras e senhores pobres leitores deste blog deparei-me com esta interrogação profunda e mal compreendida do devir humano em pleno feriado de carnaval.

Há diversas maneiras de se tratar desta inquietação humana. De todas as maneiras possiveis de encara o problema, a resposta mais honesta é: não sei! E ninguém sabe... Concordo que há outras respostas tão evasivas quanto, porém mais reconfortantes – vamos explorar estas possibilidades a seguir – e é claro há resposta charlatãs expressas nos livros de auto-ajuda que se não são honestas nem reconfortantes, no entanto, servem para deixar alguém rico com a venda de livros ou com palestras à torto e à direita.

O fato, caro leitor, é que neste caso a resposta mais simples e honesta também me parece a mais verdadeira: a vida não tem mesmo sentido. Mas, antes de cortarmos os pulsos vamos pensar que muita gente passa por essa vida de modo integro e até mesmo feliz. Então o que fazem com a vida "vazia" ou sem sentido?

A verdade é que esta pergunta me assombrou por uns dias. "Não sei" é uma resposta reconfortante, encerra a questão e permite que não pensemos mais no assunto; mas não dá encaminhamento ao problema. Portanto, se não temos uma resposta clara, é possivel pelo menso avançar no problema.

Descartemos desde já o besteirol da autoajuda. Coisas do tipo: “a vida é a busca da felicidade” é tão vago quanto “Crescei-vos e multiplicai-vos” – pé de couve também cresce e multiplica. E se o sentido da vida fosse a busca pela felicidade a fila de emprego pra ser palhaço estaria bombando. Nem uma coisa nem outra... e todas as frases de efeito já descartamos por analogia...

Pensando sobre o assunto e no auge de conversas com amigos na crise dos trinta e poucos, alguns avanços puderam surgir... tenho aqui minhas considerações que divido com você leitor, mas que cada um teça sua própria teia de respostas...  

É verdade, não há UM sentido à vida. Mas, a vida de cada pessoa pode adquirir sentido próprio. O fato é que a vida não tem sentido em si, mas podemos dar às nossas vidas sentido ou sentidos diversos. Algumas pessoas fazem da vida a busca pela realização de um sonho, outros tentam fazer da vida uma busca pelo acumulo (de dinheiro, de bens, de patrimônio), outros ainda fazem da vida um processo de abdicação e de altruísmo, ou de apoio à comunidade. Enfim, há uma infinidade de objetivos que podemos dar à vida, depende da individuação...

Nas sociedades modernas prezamos pela liberdade. Isso nos dá o direito de individualizarmo-nos. Podemos, enfim, ao escolher, diferenciamo-nos das outras pessoas. Isso inclui o que fazemos da nossa vida. Mas, isso também nos torna reféns dessas escolhas. Fato que nos torna diferentes dos nossos ancestrais. A vida em comunidades primitivas é mais básica e o sentido é único: preservar o grupo. Não há opções, a vida é mais clara e mais simples. Porém, não há escolha ou individuação. Porque o grupo depende de papeis previamente definidos e de uma sociabilidade que envolve todos os membros.

Nossa sociedade moderna produz um excedente absurdo. Se hoje podemos escolher sermos mais individualistas, ou individuais, buscar metas e projetos próprios é porque hoje a sociedade não depende da boa vontade de cada individuo, a sociedade tem formas de organização que vão além dos indivíduos. Neste caso, dada a complexidade de formas de sociabilização, liberdades de escolha dentre as tantas opções do ser, também não há uma única forma de realizar-se.

O que quero dizer é que o vazio do sentido da vida tem a ver com a liberdade que temos de dar às nossas próprias vidas um sentido a ela. (Ou de não nos dar sentido nenhum para viver). O problema de não darmos a vida um sentido é que acabamos por perdermos todo e qualquer impulso para realizações. Sem duvidas as pessoas, todas, passam por um mecanismo de desejo e realização. Vou atrás do que desejo – ou do que a sociedade deseja que eu deseje. Mas, se a sociedade não espera nada de mim e eu próprio não dou um sentido para minha presença em sociedade, o mecanismo desejo-realização falha e tenho pouco ou nenhum estímulo para a ação social.

Quando acordo cedo, tenho que ter um motivo – seja meu ou seja porque alguém se incomoda por eu dormir até mais tarde. Mas, se não tenho um motivo próprio ou uma satisfação à dar, até mesmo levantar de uma cama passa a ser difícil.

Chegar a essas conclusões não ajuda a responder a pergunta a respeito do sentido da vida, mas evidentemente, não é a vida que nos cobra um sentido... temos que admitir que o sentido da vida é uma construção que um dia já foi social, mas que hoje é individual. E enquanto individuação, cabe a nós mesmos darmos sentido a nossa vida. Assim, chegamos aonde o problema começa...

Nenhum comentário: