domingo, 27 de março de 2011

Quando Obama cita Lula e todos Ignoram...

Por que a mídia omitiu as duas menções de Obama à Lula? Foram claras e precisas, primeiro a menção ao garoto pernambucano pobre sair de uma fábrica e chegar ao cargo mais alto do país:

“Hoje o Brasil é uma democracia desabrochando, um lugar onde as pessoas são livres para falar o que pensam e escolher seus líderes e onde um garoto pobre de Pernambuco pode sair de uma fábrica de cobre e chegar ao gabinete mais elevado no país. Na última década, o progresso feito pelo povo brasileiro inspirou o mundo.”

Depois foi a vez de citar o slogan que fez de Lula duas vezes vitorioso nas campanhas eleitorais:

“Milhões foram retirados da pobreza. Pela primeira vez a esperança está voltando a lugares onde antes prevalecia o medo. Eu vi isso hoje, quando visitei a Cidade de Deus. Não se trata apenas dos novos esforços com segurança e programas sociais. E quero dar os parabéns ao prefeito e ao governador pelo excelente trabalho que estão fazendo. Mas também é uma mudança de atitude.”

Ambas as citações são extraidas do discurso de Obama no Theatro Municipal do Rio de Janeiro semana passada. Ninguém tocou no assunto ou fez mensão a isso, pelo menos ninguém que eu tenha visto ou ouvido falar na mídia sobre este discurso de Obama. A segunda citação é uma clara mensão à campanha onde a esperança vencia o medo. Resposta cunhada em 2002 para responder à famosa propaganda de Regina Duarte na Televisão. Além de citar os programas sociais do governo que tem por objetivo criar uma “nova classe média brasileira”.

A pergunta é, por que citações tão claras em relação à Lula foram simplesmente ignoradas dos comentários gerais da mídia? Será que ninguém se tocou? Duvido...

A verdade é que existe uma clara e deliberada campanha para nos esquecermos de Lula, ele não foi “tão bom assim” e vai ser logo superado pelo governo de Dilma. E isso se faz como tendência. A grande mídia elegeu Lula como sua antítese e faz, consciente ou inconscientemente na cobertura dos jornalistas, movimentos para expurgá-lo da história recente do país.

Quando FHC foi sucedido por Lula, a campanha a respeito da continuidade entre os governos era forte. Lula só teria mérito ao dar continuidade ao que iniciou Fernando Henrique. O governo fez questão de rebater esta tese com a expressão “herança maldita”, que provavelmente foi muito mais forte entre a população de baixa renda por conta do insucesso econômico do segundo governo FHC.

Agora é a difícil de entender toda a campanha em torno das diferenças entre Dilma e Lula. A incoerência da interpretação histórica da mídia é descabida. Se Lula foi uma certa continuidade das políticas de FHC (e estamos falando de oposição e situação), porque de Lula para Dilma (de situação para situação) seria interessante ressaltar aspectos de ruptura?

Quem abre os jornais ou vê televisão concorda que Dilma é muito mais discreta que Lula. E isso em política pode ser uma deficiência, não um mérito. Porque a capacidade de comunicação com as massas é um peso vital para a sustentação política de um governante. A discrição de Dilma pode ser justamente seu calcanhar de Aquíres, Sabendo disso, a presidenta força por pautar seu governo em resultados. Talvez seja insuficiente para sua reeleição, porque bons resultados em termos de economia e desenvolvimento social não dependem exclusivamente de bom governo, mas também de bons ventos nacionais e internacionais.

Se é arriscado para o governo sustentar-se em tal aposta, para a oposição expressa na mídia, ao tentar “desmistificar” Lula com a estratégia de elogiar Dilma pode também ser um tiro n’água. Lula não sairá da consciência coletiva do chamado ‘povão’ nos próximos quatro anos. Com ou sem campanha de analistas ressaltando suas diferenças em relação a Lula.

O fato é que o PT tem um plano B para a próxima campanha presidencial. Se Dilma não vai bem, volta Lula. Enquanto isso, PSDB e DEM sequer conseguem chegar a um consenso sobre um Plano A.

Ainda é cedo para avaliar se o plano de pautar o governo Dilma diferente de Lula, ou a tentativa de desmistificar Lula terão alguma eficiência. Mas, o fato contundente em toda essa historia é que todo o avanço nestas questão tem efeito bastante limitado se a oposição não tiver um projeto alternativo sólido e consistente para apresentar nos próximos anos.

Um comentário:

Patrícia Bianco disse...

De tudo que eu mais gostei foi você evidenciar que PSDB e DEM estão mais perdidos do que o Kassab quando decidiu criar um novo partido político.