sábado, 26 de fevereiro de 2011

Violência que não se justifica

Semana passada, os ânimos se esquentaram. O que era para ser mais um protesto sobre o aumento da passagem de ônibus em São Paulo transformou-se em um show de horrores. Os grandes jornais, que até então não davam importância aos protestos, viram-se obrigados a noticiar o acontecido. A ênfase da reportagem do Estadão recaiu sobre a agressão da PM aos vereadores.

Recebi um e-mail sobre o caso, nele as fotos abaixo falavam sobre o caso do servidor público Vinícius, que foi hospitalizado em estado grave por conta das agressões de policiais militares.

A história é velha e repetida, me cansam os casos de violação e abuso das polícias. Essas instituições fundamentais ao Estado de direito, no Brasil, costumam contar com um justificado repúdio por parte da população. Estudantes, professores, universitários em geral, servidores públicos e intelectuais não gostam das ações policiais no Brasil. Simplesmente porque a policia não resolve, em geral, complica os casos de violência.

São conhecidos e amplamente divulgados os relatórios da ONU sobre tortura no Brasil. Sim senhoras e senhores, no Brasil há – e muita – tortura. Elas acontecem em cada esquina onde há uma delegacia de polícia. E não pense você, cheiroso de classe média, que vive no alto do seu apartamento em Moema, que esses casos de violação dos Direitos Humanos não respingam em você como óleo quente...


(fotos enviadas por e-mail como denúncia aos abusos policiais)

Uma amiga campineira certa vez me contou um caso interessante, trágico, mas digno de se observar pelo prisma sociológico.

Dizia ela que estava na casa do seu namorado quando assaltantes armados e encapuzados invadiram o local. Sabiam o que queriam e como conseguir. Vasculharam as paredes e armários em busca de cofre. Encontraram jóias, dinheiro e aparelhos eletrônicos. Tudo que foi fácil transportar logo tomou rumo com os assaltantes, que passaram a buscar os cartões de banco. Enquanto um dos bandidos pegou a moto e foi aos caixas eletrônicos, os outros pegaram a família e forçaram a identificação das senhas. O modo de obter as senhas é que me chamou a atenção: tortura psicológica. Colocavam o revolver na fonte da esposa, na frente do marido e faziam ele falar a senha. Brincavam de roleta russa com as armas. Chutavam e batiam em lugares estratégicos para que a dor fosse forte e ao mesmo tempo passageira. Sabiam o que estavam fazendo e fizeram tudo isso muito rápido

Por algum tempo fiquei me perguntando onde os bandidos aprenderam suas técnicas. A resposta é obvia, porque não foi em nenhum filme de Hollywood ou no Google. A política certamente tortura seus suspeitos em busca de informações. Os bandidos torturados, que entregam informações privilegiadas sob pressão, aprendem e entendem na pele a sensação. Fácil: depois é só repetir.

Não quero com isso dizer que a classe média brasileira deve ser contra tortura porque cedo ou tarde isso cai no seu colo. Seria funcionalista demais. Deve ser contra a tortura por uma questão de princípios. A polícia deve atuar como força de prevenção e coerção dentro dos níveis da legalidade e do respeito à dignidade humana. Pronto e acabou.

Mas, quero dizer sim que é idiotice achar que enquanto a polícia está batendo em “marginal” e “arruaceiro” está tudo bem. Quero dizer sim que o espírito público que falta no Brasil, quando essa gente se omite em casos como esse torna o país pior que é. E quero dizer também que quando vejo a policia agindo como agiu no caso do protesto dos servidores, na minha análise não há nenhuma diferença entre a polícia militar e um bando de mercenários armados e perigosos sem o menor espírito institucional e de racionalidade pública.

O que mais impressiona no caso do protesto contra o aumento do preço da passagem é que cidadãos no uso do seu direito legítimo de protestar são brutalmente agredidiso. Enquanto isso for tratado como apenas mais um epsódio de violência, sem levar em consideração as raízes dos problemas e a realidade da segurança públicanão for corrigida no Brasil pode fazer 2839890 operações nas favelas do Rio de Janeiro ou gastar milhões de reais em São Paulo que o problema de violência urbana vai continuar alto.

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