quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Os falsos filósofos - parte I, categorias

Embora eu apresente 5 categorias em que considero a relação entre as pessoas e a filosofia. Meu objetivo é discutir uma categoria bastante específica: O falso filósofo. Não falo, portanto, do professor de filosofia, ou das pessoas que tem capacidade reflexiva, mas não se definem como filósofos. Quero falar dos falsos, que usam as palavras para iludir, ludibriar e enganar as pessoas com ilusões em relação ao mundo e a humanidade.
A diferença básica entre o filósofo e o não filósofo é a capacidade de refletir sobre o mundo. Enquanto um tem capacidade de abstração e generalização, o outro não se coloca diante dos problemas da existência. Tudo bem, o problema é quando alguém assume o papel de filosofo sem ser. É como comprar na farmácia um remédio que não oferece o efeito proposto. Fazer generalizações distorcidas para confortar os conflitos é mais perigoso que não fazer generalizações. Um falso filósofo que faz isso em geral começa dizendo que todas as pessoas são especiais. Tipo: “você é especial, acredite nisso”. Um verdadeiro filósofo já questionaria com um “por quê?” “Que provas têm você disso?”. Porque os filósofos não afirmam peremptoriamente frases ao vento, como se fossem anzóis a pescar uma boca aberta no rio. Filósofos verdadeiros só afirmam com base na reflexão e na conversão do argumento em lógica irrefutável. Filósofos de verdade, profissionais ou não, tem um entendimento sofisticado da vida e do homem, não precisam se afirmar com frases de efeito.
Distingo então as cinco categorias nesta minha análise da filosofia:
1) O filósofo profissional. Fácil de identificar. Formado em Filosofia, em geral é professor. Mas, tem pensamento próprio, faz projeções. Discute o mundo e as possibilidades de filosofia baseando-se na sua capacidade cognitiva. Pode fundar novos paradigmas sociais ou pelo menos discutir os problemas da humanidade com instrumentos e conexões próprias. Ou seja, tem pensamento próprio filosofia própria e são capazes de dialogar com sua realidade com base em termos atuais. São raras essas figuras, mais porque são raros os filósofos que desenvolvem pensamento próprio e fogem do padrão imposto pelo rigor do campo.
2) O professor de filosofia. Não é por ser professor ou profissional que distingue essa categoria da anterior. A diferença entre o filosofo profissional e o professor de filosofia é a originalidade com que o filosofo encara o mundo. Originalidade esta que não existe no professor de filosofia, porque este somente reproduz um ou alguns pensadores. O professor de filosofia não tem pensamento próprio. Não chega a ser um falso filósofo, mas também não é um filosofo no sentido aqui pretendido. Se tentar, está mais pra charlatão que pra filósofo. Passa a ser inevitável a qualquer estudante de filosofia que acaba não se pretendendo filosofar, porque quando estudamos demais um autor acabamos enxergando o mundo a partir da sua perspectiva. E, seja qual for o autor da história da filosofia, se alguém se torna um especialista no seu pensamento, acaba por deduzir o mundo a partir dessa perspectiva.
3) O filósofo que não se identifica como filósofo, mas é... Essa, sem dúvidas, a categoria mais interessante. Existem pessoas com uma capacidade de reflexão invejável. Figuras que pouco estudaram ou nunca estudaram filosofia. Conhecem ou desconhecem filósofos, falo de pessoas que tem ou não educação formal, mas são capazes dos mais altos vôos filosóficos, pensando a condição da sociedade, a importância das pessoas, o ser, o justo, o verdadeiro, o belo. Admiro essas pessoas, que conseguem enxergar a filosofia sem as amarras do rigor. São pessoas que pensam sua própria condição no mundo, buscam a verdade e a justiça sem o egoísmo e o casuísmo da maioria de nós, pessoas inquietas que adotam um modo filosófico de viver sem necessariamente se prender aos padrões que nos classificam. São o que são e podemos considerá-los filósofos porque pensam na condição de existência.


4) O falso filósofo. Chamo de falso filosofo todo aquele que de alguma forma apresenta uma falsa ou enganosa concepção do mundo. Desde os livros de auto-ajuda, que dizem a todos, “você é importante”; “você é únicos” etc. Até os pouco rigorosos que exploram sua condição para ganhar vantagem. Hora, se filosofia é uma coisa abstrata, que envolve todas as pessoas, nossas condições subjetivas de existência, não dá pra ficar brincando com isso. Não dá pra jogar frases no vazio e dizer que isso é filosofia. Se você é um filosofo profissional, vale seu estudo, a comparação da sua filosofia com a alheia e com a história da filosofia – processos de ruptura e continuidade com a construção humana da filosofia. Quando alguém se propõe a tratar de filosofia, deve estudar seus aspectos e conhecer o que outros disseram antes de , aprender com a pratica e quem saber tornar-se um exemplo para a gerações futuras. Um falso filosofo, alguém que se diz filosofo, mas simplesmente não consegue apresentar nada consistente, não tem a preocupação com seu rigor e sua prática. Seria melhor não se identificar ou não identificar seus escritos com filosofia. Poupá-lo-ia do desprezo dos verdadeiros filósofos.
5) O não filósofo. Outra categoria bastante interessante. Porque o não-filosofo é aquele que reconhece sentido na divagação filosófica. Gosta, acompanha e acha auto-suficiente o mundo prático. Acha filosofia uma perda de tempo ou simplesmente não se propõe a parar para refletir sobre a existência em geral ou sua existência em particular. Pelo menos essa figura é honesta.
Evidentemente toda generalização ou categorização sofre do problema da imprecisão. Algumas pessoas podem variar entre o professor de filosofia e o falso filósofo. De charlatões o mundo está cheio. Isso não é tão importante. O importante é dizer que, ou você tem os dois pés na filosofia e obedece aos mecanismos de reflexão do campo, ou não se liga a nenhum dele e tem talento para refletir sobre si mesmo e a sua volta. Já pessoas que não tem o menor talento pra isso, tentam se aproveitar da ingenuidade e da desgraça alheia para se dar bem. E, sinceramente, esse tipo de gente me irrita.
Continuação na Sexta-feira...

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