segunda-feira, 9 de agosto de 2010

The Clinic – negócio ou crítica social?

The Clinic, nome comum para locais de internação de pacientes com problemas de drogas ou psicológicos, não tem este nome no Chile com o mesmo sentido. Em Santiago há um jornal, semanal, uma loja de presentes e um bar/restaurante com esse nome. Tornou-se praticamente uma franquia. As origens, porém, da escolha desta marca é que são, digamos , interessantes.
The London Clinic foi o hospital onde Pinochet ficou preso por 18 meses entre 1998 e 2000, por pedido do juiz espanhol Baltazar Garzón. O bar é um bem postado e sofisticado boteco da região central de Santiago, a publicação segue a linha editorial polêmica, irônica e defensora dos direitos civis. A franquia tem canetas com a marca, calendários, artigos para escritório, camisetas, blusas, etc no melhor estilo Mac Lanche Feliz. Tudo bem, posso estar exagerando, pode ser mais tipo: “seja crítico use Benetton”. O fato é que, de esquerda ou direita, é um negócio.
Muito bem articulados, uma classe média esclarecida, crítica e ligada os direitos civis, os idealizadores do The Clinic estão muito próximos dos nossos irônicos da Revista Piauí. Talvez sigam a mesma linha do extinto Pasquim, mas sem o mesmo contexto repressivo.
Misturando imagens, resenhas, ironias, entrevistas e dando visibilidade às opiniões polêmicas como aborto, casamento gay e críticas a direita chilena, The Clinic ganha espaço numa sociedade ainda bastante reprimida. Talvez os chilenos sejam, enquanto cultura geral, os politicamente mais conservadores dos nossos vizinhos do cone sul. Sofrem da mesma maleza estrutural da desigualdade social profunda da sociedade – problema tipicamente latino-americano – mas, há de se admitir que alguns problemas organizacionais que sofremos muito, eles tem melhorado em relação aos seus vizinhos da América Latina. A evasão fiscal no Chile, por exemplo, é baixa, o trabalho informal foi controlado, as estradas, portos e aeroportos têm infra-estrutura.
(está escrito: "SE NÃO TOMAMOS O PODER, saiba você que:
... a direita ama ao País, mas odeia a maioria dos que vivem nele."

The Clinic ganha espaço na crítica ao novo presidente eleito, um empresário conservador que conseguiu aproveitar-se das rupturas na coalizão de partidos conhecida como Concertacion, (que englobava partidos Socialistas, social-democratas e cristãos) que governavou o país por dezoito anos. A coalizão rompeu-se e lançaram-se três candidatos no último pleito. Piñera, então derrotado por Michelle Bachelet em 2005, lançou-se como principal candidato da oposição conservadora. Venceu e hoje é o alvo mais principal dos divertidos e venenozos ataques dos editoriais de The Clinic.

Nesta história toda, fico pensando o quão distante estamos de antigos ideais da esquerda clássica. The Clinic, volto a repetir, mais que um projeto editorial e comprometido com a sociedade Chilena, é um negócio. O restaurante e bar têm, todo o dia e à noite, filas e mais filas e a loja de suvenires tem produtos caros. Tudo bem que o jornal deve mexer com os brios dos conservadores e fazer certo estrago ao publicar entrevistas bombásticas, críticas ásperas e carregar no humor irônico. Mas, fico me perguntando, em que medida isso resulta em uma crítica mais profunda e contundente à sociedade atual, crítica característica de uma esquerda clássica que não se contentava com reformas pontuais e circunstanciais. Não tenho resposta a essa pergunta.

O que me impressiona é que todos nós latino-americanos, ou mesmo nos EUA e Canadá, mais evidentes ou não, temos nossos críticos sociais que transformam suas idéias em negócios. Hoje em dia alguns grupos vendem um rótulo de esquerda e outros compram o signo do descolado. Enquanto isso, a impressão que fica é que consumimos a revolução para não necessariamente nos comprometermos com ela.

+ sobre o Juiz Espanhol Baltazar Garzón no Blog: El Alma de los Verdugos de Vicente Romero e Baltazar Garzón

+ Site Oficial de THE CLINIC : http://www.theclinic.cl/

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