(Esta semana uma colaboração da Historiadora da Arte, prof. Dra. Paula Vermeersch, numa análise histórico-arquitetônica para o blog).
SAUDOSA MALOCA
por Paula Vermeersch*

De fato, o que mais os paulistanos vêem, em seu cotidiano, é a demolição de várias “saudosas malocas”, edifícios antigos que, mal preservados, viram lojas, prostíbulos, fliperamas e os populares cortiços, no centro da metrópole. Se, nas décadas de 10 e 20 era de bom tom demolir construções coloniais para erigir novos símbolos da riqueza da cidade, em pedra, cal e fachadas ornamentadas com gesso, nos anos 40 e 50 essas sólidas construções deram lugar aos arranha-céus, que hoje são decorados com vidros fumê de gosto duvidoso.
A preservação do patrimônio arquitetônico, em São Paulo, é reconhecidamente caótica; alguns exemplares da chamada Arquitetura Eclética (realizada na virada do século XIX para o XX) são reconhecidamente bem-cuidados e estimados, como é o caso do Teatro Municipal, ou da Pinacoteca do Estado, antigo Liceu de Artes e Ofícios; outros, como é o caso do casario do Bixiga, se despedaçam em meio ao desconhecimento e a falta de recursos da população e o descaso do poder público.

Mesmo o pesquisador universitário, que se aventura a falar da Arquitetura Paulistana, muitas vezes se encontra numa situação difícil, já que a falta de informação muitas vezes o afasta de seus objetos. O único Guia de Bens Arquitetônicos Tombados, do governo estadual, data de 1984. O centro da reflexão e da produção de conhecimento acadêmico sobre o patrimônio arquitetônico do município continua sendo a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, que abrigou o surgimento de monografias, dissertações, teses e artigos sobre vários temas relevantes a respeito, bem como contou e conta em seus quadros com profissionais ligados diretamente à administração e o restauro desses bens. Apesar dessas importantes iniciativas, bem como esforços da Prefeitura e do Estado, ainda se engatinha no conhecimento efetivo e na preservação de partes importantes desse acervo.
Muitas vezes, tais bens sofrem descuidos por não serem considerados “belos”, ou dignos de interesse. Daí decorrem alguns erros de avaliação, mesmo por parte de proprietários e profissionais da área imobiliária, que reforçam certos preconceitos em relação a partes da produção em Arquitetura na cidade. Talvez, nos próximos anos, possamos observar o nascimento de uma preocupação mais detida, de um carinho e respeito maiores pelos sobrados, prédios, monumentos, estátuas e outros “personagens” da combalida paisagem paulistana.
* professora de História da Arte na Unimep-Piracicaba, Doutora em Teoria Literária pela Unicamp e pós-doutoranda em História da Arte na Unicamp.
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