quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Espírito Olímpico e oportunidades sociais

Qual o significado para o Brasil em sediar uma olimpíada? Pelo grau de interesse gerado pelas cidades e o calibre do processo, sediar os jogos não é coisa pequena. Não apenas pelo grau de investimento e retorno financeiro, também pelas conseqüências indiretas que o processo pode acarretar.
Conseqüência indireta e desejada por toda cidade que se pretende ‘olímpica’ é torná-la integrante privilegiada do circuito turístico, tornar o lugar conhecido mundialmente, atrair investimentos, gerar empregos, melhorar a infra-estrutura, ganhar publicidade grátis etc. Internamente, a primeira condição para uma olimpíada é a reforma urbanística. Sistema de transportes, moradia, infra-estrutura urbana e hoteleira... e toda infra-estrutura para as para-olimpíadas ganha um projeto urbanistico especial porque trata-se de uma reforma geral e indispensável. Além disso, o projeto olímpico deve levar em conta a inclusão que o esporte se pretende.
E é disso que trata o chamado “espírito olímpico”. Pelo menos é em relação a isso que deveria pensar-se quando se participa de um jogo esportivo. Antes de pensar o placar, é preciso pensar o processo. Incluir o Rio de Janeiro entre Chicago, Madrid e Tóquio não é uma discussão para a escolha do lugar com melhor infra-estrutura porque neste caso o Rio de Janeiro estaria muito distante. Mas, também é uma discussão a respeito de quem teria os maiores benefícios como sede. Neste caso o Rio entra como forte candidato.
E inclusão esportiva é uma coisa que se faz no Brasil. De um jeito torpe, às vezes estranho, às vezes sem noção, mas se faz. Sempre aparece alguém com um passado humilde, mas que com dedicação consegue superar as dificuldades e alcançar o pódio olímpico. Um lutador de Tae-Kwon-Do aqui, um judoca ali, um corredor acolá... O esporte é um mecanismo de ascensão social no Brasil. Futebol é o melhor exemplo disso: quantas crianças pobres não saíram das favelas e das periferias do país para conquistar os campos do mundo?
Excluso o esporte, apenas a música pode ser colocada como categoria no mesmo nível de possibilidades para mobilidade social no nosso país. O que supostamente seria uma vantagem para defender que o país deva investir no esporte, mas talvez devemos nos atentar ao contraste que isso proporciona.
Quando falamos em mobilidade social, o importante no conceito é perceber sob quais condições em uma sociedade as estruturas institucionais estão preparadas a gerar oportunidades de desenvolvimento a qualquer cidadão com interesse a melhorar sua condição de vida. Ou seja: quanto mais oportunidades uma sociedade dá a seus cidadãos, melhor sua estrutura institucional para o desenvolvimento e a qualidade de vida. No caso brasileiro, as estruturas são falhas em proporcionar mobilidade social. O futebol proporciona alguma, o esporte em geral abre uma porta (fecha dez, é verdade), a música outra (e fecha mais ainda)...
Mas, a condição sine qua no para a mobilidade social é a educação. Não existe sociedade justa e que proporciona oportunidades de desenvolvimento no mundo moderno e ocidental que não tenha um sistema de educação preparado para a mobilidade social. Ou seja: quanto mais estudo, mais oportunidades tenho de desenvolvimento dentro da minha sociedade. Esta deveria ser uma verdade irrevogável. No caso brasileiro, porém, estudar não é sinônimo de ascensão social.
Dizer que o esporte nos ajuda a gerar oportunidades é uma verdade indiscutível. Gera benefícios diretos e indiretos aos seus praticantes. Segundo a organização mundial da saúde, cada 1 dólar gasto com esporte e/ou qualidade de vida, economiza-se 3 dólares no sistema de saúde. Porém, jogos esportivos são para poucos e competitividade olímpica para um seleto grupo de privilegiados ainda menor. Esse fato também indiscutível não pode cegar os olhos da sociedade para a necessidade de gerar outras oportunidades sociais que sejam mais abrangentes e justifiquem oportunidades sociais mais sólidas. A olimpíada, portanto, não pode ser vista um circo onde são apresentadas meia dúzia de artistas dos esportes no picadeiro. E, a partir disso, generalizar a exceção ao mostrar que tudo é possível, simplesmente ignorando o fato de que aquela oportunidade dos poucos estarem ali reflete entre outras coisas a exclusão de muitos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Li recentemente um artista global dizendo que as olimpíadas trará a inclusão social. Fiquei estupefada com tamanha declaração. Não conheço outra maneira ocorrer a inclusão social se não pela educação. O que no nosso país é tratado com desdém. O que vejo nestas olimpíadas é mendigos que serão levados para algum lugar qualquer, segurança, um aquecimento na Economia Global, Hotéis lotados, Turismo etc. Tudo bem empregos indiretos. Mas e depois das olimpíadas?
Gostei muito do que você escreveu e estarei divulgando no twitter.
Abraços!
Anne

Anônimo disse...

Li recentemente um artista global dizendo que as olimpíadas trará a inclusão social. Fiquei estupefada com tamanha declaração. Não conheço outra maneira de ocorrer a inclusão social se não pela educação. O que no nosso país é tratado com desdém. O que vejo nestas olimpíadas é mendigos que serão levados para algum lugar qualquer,seguranças durantes os jogos, um aquecimento na Economia Local, Hotéis lotados, Turismo etc. Tudo bem empregos indiretos. Mas e depois das olimpíadas?
Gostei muito do que você escreveu e estarei divulgando no twitter.
Abraços!
Anne

Anônimo disse...

Apaga o primeiro post. Escrevi rápido e confundir as palavras.