Semana passada, quarta-feira, o jornal Valor Econômico traduziu um artigo de Peter Coy, do Business Week. "Ei vocês, gênios da economia, o que houve?"
"O maior pecado dos economistas é a arrogância. Nos anos 60, Milton Friedman, economista adepto da teoria do livre mercado, persuadiu virtualmente toda a profissão de que a Grande Depressão foi causada pelo Federal Reserve. Isso parecia implicar que uma política melhor por parte do banco, conduzida por economistas, evitaria uma reincidência. Bernanke, que à época ocupava uma diretoria do Federal Reserve, afirmou exatamente isso num discurso de 2002, em comemoração ao 90º aniversário de Friedman, em que reconheceu o papel do Fed na Depressão. Disse ele a Friedman: "Você está certo, nós causamos isso. Sentimos muito. Mas, graças a você, não faremos isso de novo." O peixe morre pela boca." (Peter Coy, editor de economia da Buseness Week, traduzido no jornal Valor Econômico de 22 de abril de 2009, página A12)
O artigo questiona capacidade que os economistas têm para antecipar-se às crises e ainda critica, de modo bastante ácido diga-se de passagem, a neutralidade axiológica da ciência econômica e seu excesso de racionalismo, destacando que por trás de decisões econômicas existem pessoas. A parte mais interessante é a retomada de alguns discursos passados dos protagonistas da economia norte-americana: o ex-presidente do FED, Alan Greenspan e o atual, Ben Bernanke. Gostaria de destacar que voltou à baila a cisão entre os economistas. Lá e cá! É um bom momento para discutir as diferenças básicas entre escolas de economia e as filiações dos seus pensamentos:
"A adesão à ortodoxia pela corrente principal de economistas também ficou visível na sua rejeição despreocupada dos receios quanto a bolhas nos setores imobiliário e de ações. O ex-presidente do Fed Alan Greenspan até negou que uma bolha imobiliária nacional fosse possível, já que o setor não era um mercado nacional único. Ele também atribuiu pouca importância aos perigos de inventos de Wall Street, como os derivativos. Apenas em 2008 ele reconheceu que estava errado. Em depoimento no Senado, disse estar chocado por ter encontrado uma "falha" em sua ideologia. "Passei 40 anos ou mais com evidências muito consideráveis de que isso estava funcionando excepcionalmente bem".
"Questões políticas agravaram o problema. Em uma divisão bem geral, é possível separar os macroeconomistas segundo sua preocupação com a instabilidade econômica. Um grupo, na tradição de Keynes, preocupa-se com a autoperpetuação de declínios econômicos que deixam a economia em profundas depressões, das quais não consegue escapar. Os integrantes deste grupo dizem que o governo precisa romper esta espiral de queda com o tipo de política agressiva promovida atualmente pelos EUA - com redução dos juros e aumento nos gastos governamentais. O grupo inclui Paul Krugman, economista da Universidade Princeton e prêmio Nobel; Nouriel Roubini, da NYU, que previu com bastante antecipação a severa recessão; e Robert Shiller, da Universidade Yale, que anteviu as bolhas dos setores de tecnologia e de imóveis.
"Outros economistas têm mais confiança no autoequilíbrio da economia. Creem que juros baixos e gastos pesados geradores de déficit, além de deixarem os EUA com uma montanha de dívida, são ineficazes. Inclua neste time Robert Barro, de Harvard; ao lado de Robert Lucas Jr., de Chicago; Edwad Prescott, da Universidade do Estado de Arizona; e Patrick Kehoe e V.V Chari, da Universidade de Minnesota. Não é surpresa que a escola do equilíbrio incline-se em grande parte na direção dos republicanos, e a escola intervencionista pareça recheada de democratas." (Peter Coy, idem).
Na América Latina é muito mais fácil encontrar economistas que atribuem um papel importante ao Estado na regulação econômica. Esta é uma grande contribuição da Escola Cepalina à formação do economista latino-americano. Portanto, aos imprecisos: não há concordância de princípios entre o neoliberalismo e o neoestruturalismo. Mas, vamos entrar nesses assuntos futuramente (tanto sobre a crise, quanto sobre a influencia do neoestruturalismo na CEPAL). Neste momento, seria importante apenas nos munirmos de informação.
O artigo completo pode ser lido no Portal do Ministério das Relações Exteriores:
Ou em inglês, no original do site da Business Week:
http://www.businessweek.com/magazine/content/09_17/b4128026997269.htm
http://www.businessweek.com/magazine/content/09_17/b4128026997269.htm
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