segunda-feira, 27 de abril de 2009

DENUNCIA: destruição do patrimônio histórico nacional

A national geographic deste mês (abril de 2009) fez uma denúncia que merece ser repoduzida aqui: “Na calada da noite de 14 de janeiro, munido de um pincel e um balde de tinta vermelha, um vândalo manchou um painel rupestre na caatinga nordestina, um dos 30 sítios arqueológicos no Parque Nacional do Catimbau, em Pernambuco” (NatGeo, abril/2009, página 18). A relíquia manchada foi a Pedra da Concha.

A reportagem ainda cita Julia Berra, do Iphan, dizendo: “As pessoas sabem quem foi. Se não houver punição, outros sítios estão ameaçados.”. Agora Pedra da Concha já não abriga mais um desenho dos nossos ancestrais, é só testemunha da ignorância para com nosso patrimônio histórico.

(Foto de Fabio Magnani, tem um relato de sua viagem ao Pq Nac. do Catimbau no site.
Na National Geographic dá pra se ter uma noção maior do estrago)

Foram essas figuras da foto acima que a pessoa manchou. Uma escritura antiga que sequer foi datada pelos pesquisadores. Estima-se que as inscrições na pedra tenham mais de 5 mil anos. Uma perda incalculável para o patrimônio histórico nacional. A reportagem continua dizendo que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) entrou em contato com a Polícia Federal para investigar o caso e as suspeitas recaem sobre uma disputa de território turístico. Sei lá o que isso quer dizer, mas de todo modo o dano já está feito.

O que mais me impressiona no caso é a ação pensada para prejudicar outros sem medir qualquer conseqüência. Não sei se é falta de preparo, educação, se é puro vandalismo, qualquer coisa pode levar ao ato, mas borrar uma inscrição histórica como essa é incompreensível.

Muita gente pode achar meu inconformismo exagerado, mas fico pensando o que seria do trabalho de muita gente que se dedica a entender a humanidade se os depredadores tivessem livre acesso a tudo. Florestan Fernandes quando propôs seu doutorado a Roger Bastide, foi seriamente questinado na sua capacidade de executá-lo: “A função social da guerra na tripo dos Tupinambás”. O trabalho da tese era reconstruir a sociabilidade de um grupo étnico extinto. Quando Florestan assumiu a tese ele tinha em suas mãos apenas elementos arqueológicos desses índios e foi através dos restos materiais que se propôs a reconstruir essa organização social. O trabalho é referência não apenas pela sua excelência nos resultados, mas também no método, na ousadia, na forma de pesquisa. Imagine se Florestan contasse com “uma disputa por territórios turísticos”.

Sabemos que sítios arqueológicos são violados diariamente. O mais escandaloso comércio de objetos históricos acontece na palestina e em outros espaços do oriente médio. Isso não quer dizer que não aconteça em outros lugares. Apenas temos menos divulgação. Mas, é preciso ter respeito com esses objetos, que são, antes de qualquer coisa, material para estudos e reconstruções que nossos investigadores necessitam para desenvolver o conhecimento científico. Na parede de uma casa, ornamentando um ambiente ou sendo bibelô de alguém, esses objetos fazem nossos trabalhadores dos institutos históricos perderem tempo e dinheiro. E muitas respostas que gostaríamos de ter nas nossas revistas e livros de divulgação acabam mofando em espaços de um idiota qualquer.

Esse ataque à pré-história brasileira é uma violência sem possibilidades para calcularmos as perdas. Somos tão principiantes em arqueologia que sequer o desenho foi datado. Temos muito que fazer nesta área ainda, mas não podemos começar mal, colocando as disputas turísticas acima do conhecimento cientifico, como foi o caso desta situação em Pernambuco.


PS: Enquanto eu procurava uma foto para ilustrar este post, me deparei com a seguinte reportagem: http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=20008&action=news - além dos vândalos que depredam o patrimônio por sacanagem, o despreparo de muita gente que se mete a fazer coisa que não deve torna o caos mais caótico: em 2006 um ninho de marimbondo queimado danificou outras pinturas, confira na reportagem e aproveita ver a fotinho que os egoistas proibem de reproduzir mesmo que citando a fonte:

Nenhum comentário: