domingo, 14 de outubro de 2012

Duas notas sobre as eleições de 2012

Enquanto muitos analistas fazem o balanço das eleições dois fatos passaram batidos, propositada ou despropositadamente negligenciados pela grande mídia.

O primeiro fato, inevitavelmente noticiado, mas devido a importância pouco discutido, foi a quarta vitoria eleitoral de quarta vitoria eleitoral de Hugo Chavez. Ora, até quando ainda vão dizer que a Venezuela não tem um regime democrático? Quatro vitorias eleitorais, com a oposição fazendo mobilizações nas ruas, os jornais noticiando, o candidato da oposição fazendo mil atos, comicios e criticas. 

Ditadura foi o que aconteceu no Brasil entre 1964 e 1989. Só pra ficar em um exemplo, em 1974, com uma eleição em que se permitia alguma campanha, os candidatos a senador da oposição conseguiram 16 das 22 cadeiras em disputa. O MDB só não barrou projetos porque o Governo Militar, que era uma ditadura, baixou uma emenda constitucional criando o senador biônico, e nomeou 22 novos senadores em 1977 para manter a maioria na casa. Isso explica porque temos hoje 81 e não 54 senadores, e porque votamos alternadamente para 2 e 1 senador. O terceiro senador surgiu de uma invenção da ditadura para manter a casa. Chavez venceu as eleições respeitando as regras do jogo e a oposição teve espaço para questionar e debater seu programa. Isso é preciso dizer. Ditadura é assim: muda as regras para manter-se. Mas uma das características das ditaduras é não abrir espaço para o julgamento do executivo.

Assim, se quiserem dizer que Fidel Castro foi um ditador, ok. Mas, também é preciso dizer que Cuba é a única exceção da América Latina. Nos outros casos todos, repito, todos os casos de ditadura são de direita. Em 1973, Allende foi deposto por Pinochet, somam se a ele, Stroessner, Fujimori ou Videla, só pra ficar com os mais famosos. Além disso, em Argentina e Brasil as juntas militares tomaram o poder para afastar a ameaça comunista; em um compromisso bastante frouxo em relação à democracia. Já no México, o PRI não era uma opção de esquerda propriamente. E pra quem conhece alguma coisa sobre a história da América Central fica horrorizado com a ingerência norte-americana. Panamá, Nicarágua ou Republica Dominicana são alguns exemplos.

Dizer que nao temos democracia em alguns paises da America Latina hoje é no mínimo desconsiderar a história. O fato é que a grande imprensa seleciona informações para comprovar sua tese - que não se comprova na realidade. A tomar pelos fatos, na América Latina a direita é golpista e a redemocratização favoreceu às esquerdas e ainda as favorecem. Presidentes que conseguem apoio dos pobres como Rafael Corrêa, Evo Morales, Cristina Kirshner, Hugo Chaves e Luiz Inácio Lula da Silva tem sim muito apoio das urnas e precisam fazer mudanças institucionais para emplacar suas plataformas políticas. Seria golpe contra a democracia se prometessem mudanças e fossem governos cooptados pelos status quo que garante o direito dos mais ricos - onde os donos dos grandes conglomerados de comuniçação casualmente se colocam solidários

Nossa segunda nota tem a ver com uma eleição interna. Não se trata de São Paulo, Rio de Janeiro ou outra capital de peso. Mas do caso de São José dos Campos. Foi lá que em janeiro passado ocorreu a brutal desocupação do Pinheirinho, região sem dono depois da morte do casal de alemães e que foi gentilmente concedida a Najis Nahas, um conhecido estelionatario capa de varias publicações da direita como empresário do ano.

O caso de Pinheirinho interrompeu 16 anos consecutivos de administração do PSDB na cidade que tinha como principal cabo eleitoral o governador Geraldo Alkmin. Se José Serra quiser nacionalizar a questão, seria uma boa fugir de casos como o de São José dos Campos. Ali a política de habitação do PSDB foi comparada ao mensalão e o resultado em favor do petista evitou inclusive segundo turno.


Um comentário:

Cássia disse...

Realmente, a respeito da primeira questão dizer que a ditadura ainda existe é desprezar a história, mais nada me faz acreditar que a abertura dada por Chavez não seja somente uma tentativa de reafirmar seu poder diante do país.
Ele poderia não ganhar, OK, mas teria deixado simpatizantes de suas idéias em todas as camadas do Estado. Um tipo de comando por outras vias - suas idéias ainda estariam no comando.
Acredito que as eleições aconteceram porque o cenário o beneficiava e, de fato, foi o que ocorreu.
Ditadura é um termo muito forte, assim como democracia...

(Enfim, essa é uma questão muito polêmica e complexa, e eu ainda estou tentando entender Marx e Weber...)