domingo, 7 de outubro de 2012

Dia das Eleições

Dia quente no interior. E dia das eleições. Acordou cedo, fez a barba, escolheu a dedo a roupa, passou um desodorante para encarar o calor, mas resolveu não passar protetor solar. O eleitor pode achar que sou fresco, não compensa. Candidato a vereador é assim. Tem de ter identidade com o povo. E povo do interior é povo de roça, que enfrenta o sol a pique. E é preciso criar identificação, pele queimada, roupa amassada, mas cara de bom moço.
Candidato de cidade pequena sofre. Sempre que um resolve disputar as eleições pela vereança um parente também entra na disputa, pelo outro lado. Aí divide os votos, fica mais difícil, embola o meio campo. Assim que Guilhermino tinha o primo Tonho no seu encalço. Seu número era 99.999 e do primo era 66.666 e o slogan “vamos virar a urna de ponta cabeça”.
Mas, Mino Mineiro tinha uma estratégia infalível: corpo a corpo no dia das eleições dá muito voto. É só dar uma enganadinha no fiscal do Tribunal, desviar dos delegados da oposição e chegar perto do eleitor como quem não quer nada. Uns fotinhos sempre se conquista. E em cidade pequena isso pode ser decisivo.
E lá foi Mino Mineiro. Entrou numa fila como quem não quer nada. Escolheu a mais longa. Vivo, pensou que ficaria mais tempo, aí entre uma conversa e outra, falava com o que estava na sua frente, com o que estava atrás, dava espaço pra os mais velhos, era gentil com as gestantes, uma delicadeza só que lhe dava muito contato com o eleitor.
Enrolou, conversou, fez e desfez no seu corpo a corpo. Quando não tinha mais jeito chegou perto da mesa de votações. Entregou o título e ouviu da mesária: “mas senhor, aqui é a fila da justificativa!”... saiu tão desconsolado que votou rapidinho e esperou o resultado no rádio em casa, com vergonha de comentar a própria gafe.

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