Começou. Nada mais a acrescentar que isso: apenas começou a campanha. E, se oficialmente não se admite que tenha começado; isso porque no Brasil as coisas são assim, a lei serve para mascarar uma realidade de fato e isentar compromissos. TSE admita ou não, todos os movimentos e candidatos caminham na direção de campanha. É obvio que daqui a 15 dias, no máximo, vão pausear seus movimentos. O Brasil estréia na Copa do Mundo dia 15/06. Segue um mês de competição.

Depois é a vez de entrar em cena a propaganda eleitoral gratuita e ouvir de todo e qualquer brasileiro, em toda e qualquer fila que pegamos, todo mundo reclamar que a TV tem propaganda e a novela começa mais tarde. Claro: porque assistir a novela é muito mais importante que assistir a transmissão da campanha eleitoral. Tudo bem, concordo que hoje em dia se “vende” candidato como se vende sabonete. Aí, pra quem não busca informação sobre candidato em canto nenhum, a propaganda que se faz na TV pode ser decisiva.
Uma boa questão para estas eleições será qual o papel que a internet vai desempenhar? Como nossos políticos e suas equipes são ainda bem precárias do ponto de vista da concepção de inovação na campanha eles ainda não se deram conta que é a oferta que cria a demanda. Então, estão todos avaliando que menos de 5% do eleitorado usa a internet para consultar sobre política. O que ainda não perceberam é que a população usa pouco porque os políticos também fazem pouco uso das ferramentas da internet e porque nenhum deles sabe ou quer se arriscar no espaço virtual. Não faltam eleitores na internet, faltam perfis de candidatos que façam bom uso da internet.
Quem não gostaria de consultar um site de candidato com suas propostas, participações políticas, seu currículo, história, opiniões, AS CONTAS da campanha abertas ou sua agenda? Ahhh, desculpem-me, aí os candidatos vão precisar ser honestos, organizados e com conteúdo. Melhor mesmo é dispersar a informação.

O Fato mais curioso do ponto de vista estritamente político é que temos primeira campanha eleitoral geral na Nova República – pós-constituição de 1988 – que Lula não concorre à presidência. Isso mesmo, o barbudo participou das outras 5. Por si só, isso já é um fato novo. Além disso, é a primeira vez, desde a velha república que um presidente eleito, que recebeu a faixa de um presidente eleito, vai transmitir a faixa a outro presidente eleito. Ou seja, faz mais de 70 anos que isso não acontece no Brasil. E, é quase certo que vá acontecer em 01 de janeiro de 2011. Enfim, nunca o país teve um período tão sólido de democracia. Repito: Nunca! Nos 120 anos de república, eleições gerais com possibilidades de alternância de poder são raras, mas eleições com voto universal, secreto e competição são ainda mais raras se acrescentadas as possibilidades pacíficas de alternância.
Mesmo com tudo isso, enganam-se os que acham que o cargo mais importante em jogo é o do presidente. As eleições para deputado e senador podem ser decisivas para o próximo presidente. Porque, mais que antes o presidente vai precisar de um Congresso ao seu lado para governar.

Acompanhe o raciocínio. O país desfruta de estabilidade econômica, crescimento e contas públicas numa desordem organizada. As políticas sociais têm importância civil e econômica reconhecidas como um consenso entre situação e oposição. Os pilares básicos dos governos já estão lançados. O que vai fazer o próximo presidente? Se quiser destacar-se com alguma marca de governo e almejar uma reeleição vai ter que tocar em temas espinhosos: reforma política, reforma tributária ou melhoras sociais. Inevitavelmente as reformas demandam desgaste.
Sem um Congresso minimamente apoiando as propostas do executivo, as políticas públicas têm pouco efeito. Por hoje já tocam em questões fundamentais, o presidente seria apenas alguém que caminha conforme a maré e não faria diferença quem quer que fosse. Para um governo de destaque, os problemas que seriam enfrentados exigem desgastes com as leis consolidadas.
Por que Lula não fez reforma agrária? Por que Lula não fez reforma tributária? Por que Lula não fez a reforma política? São questões que envolvem o legislativo e a relação de forças no seu governo não permitia ir tão à fundo nesses pontos. A articulação política ainda não permitiu. Agora, ou o próximo presidente progride nas mudanças necessárias dentro do nosso sistema, ou sua contribuição à república e à democracia serão baixas – fato que o comprometera em quatro anos.

Quem vai sair vencedor desta batalha – a oposição ou a situação – de fato só será uma vitória importante ao país se se ganhar com forte representatividade na Câmara dos Deputados e Senado. Caso contrário, sem projeto e sem apoio político, um resultado fragmentado das eleições legislativas não vão ajudar o próximo presidente a tocar adiante sua agenda e neste caso, quem perde é a república, que não tocará por quatro anos em questões nevrálgicas que necessitam de tratamento especial pelo nosso sistema. Enfim, a responsabilidade é nossa e implica em termos coerências em nossas escolhas. Portanto, nada de votar em fulano porque é meu amigo, ou em ciclano porque aparece bem na televisão, e nem votar em alguém porque é da região ou porque aparece no palanque da cidade de quatro em quatro anos. É hora de votar em partidos e propostas, não em indivíduos.
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