sábado, 20 de março de 2010

Mais fluxo no trânsito ou o porque em sermos indiferentes a educação pública em São Paulo

O que mais me irrita sobre o debate educacional é que não há política educacional em São Paulo. Ou se existe, é muito ineficiente, ineficaz, incompetente.

Exemplo: o governo fez um exame para avaliar e efetivar professores. Resultado: não preencheu todas as vagas. A conclusão é meio que obvia: os gargalos na educação no Estado de São Paulo começam antes da sala de aula. Desigualdade social, condições de pobreza e miséria, violência, drogas, televisão e tantas outras coisas que influem na formação do aluno estão na "pré-escola" da educação; ou na antessala da educação. Somado a isso: muitos professores despreparados, mal formados, sem noções e formação pedagógica adequada, sem estrutura profissional adequalda e, finalmente, pessimamente pagos. Outros detalhes (não tão detalhes assim) podem ser acrescidos a essa fórmula: administração e gestão escolar ruins, secretarias e/ou políticas educacionais equivocadas, falta de clareza nas diretrizes educacionais e conseqüente não efetivação de políticas educacionais.

O Estado de São Paulo é apenas o nono estado da federação em qualidade do ensino fundamental. Considerando que é o ente mais rico do país, que tem elevado nível de renda e infra-estrutura das melhores, esta posição do estado é incompreensível. Sem me estender na critica desnecessária ao governo, mas é preciso lembrar que são mais de 16 anos de gestão PSDB à frente da educação em São Paulo. Se antigamente podíamos culpar as interrupções das políticas públicas como causa do caos e da falta de direcionamento para o problema, agrava-se nosso desespero com relação ao ensino público ao pensar que são praticamente 16 anos de gestão tucana onde os resultados são pífios. Repare que se um aluno entrou para o primeiro ano do ensino fundamental em 1995 ou 1996 foi formado totalmente com políticas do PSDB para educação em São Paulo.

Não posso admitir, em vista de fatos tão evidentes, que os jornais discutam apenas o caos metropolitano recorrente das duas passeatas de professores nas duas ultimas sextas-feiras. Tratar o problema como recorde de 270km de congestionamento é absurdo e fantasioso. São Paulo não precisa dos professores da rede pública para bater seus recordes de congestionamento. O triste é que são os mesmos jornais que criticam o analfabetismo funcional, as falta de diretrizes para educação ou o atraso que o país é submetido com a falta de preparo dos seus cidadãos. São os mesmos jornais que criticam o voto das classes subalternas e reivindicam mais cidadania e formação da população. Ai aparecem notícias com esta associação ridícula. Não dá pra considerar uma reivindicação dos professores com uma chamada no trânsito.

MANCHETES:


ESTADÃO: “Protesto e Transito”


Folha de São Paulo: “Professores mantêm greve e farão ato na sede do governo”

Jornal da Tarde: “Cratera e passeata: confusão o dia todo”


AGORA SP: “Professores mantêm greve e marcam protesto no Palácio”


Diário de São Paulo: “Passeata rende multa de R$ 350 mil a professores: categoria para a paulista e rende Recorde de congestionamento do ano: 270km”


É preciso abrir espaço para o debate propositivo para educação publica neste país. Se sindicatos se aproveitam de momentos eleitorais para manifestar-se, também é verdade que a ausência de resultados trás justeza aos protestos. Comparar trânsito às reivindicações dos professores de escola pública chega a ser crueldade posto a importância que o processo pedagógico deve ocupar no país. Estrategicamente, com cidadãos melhor formados, inclusive o transito tende a diminuir suponde que as pessoas vão tomar consciência do abalo que o transporte individual causa ao meio ambiente e ao caos paulistano e começar a optar por transportes coletivos – supondo ainda que o governo seja organizado o suficiente no futuro para melhorar também esta outra estrutura caótica da metrópole paulistana. Porque cá entre nós – se o bloqueio de uma rua causa 270km de congestionamento, o problema não é o protesto, mas o fluxo do transito. Só alguém com muita falta de educação pra fazer a mesma associação fantasiada pelos jornalistas.

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