
Barack Russein Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos, venerado há poucos meses por seu feito histórico, embora com menor apoio ele ainda colhe os louros que a fama mundial lhe trouxe. Seu feito não faz por menos: pertence a uma minoria étnica, nuns pais onde a apartheid era presente em alguns estados até os anos 1960 e ainda muito marcado por preconceitos raciais, sai de um quase desconhecido deputado distrital para alcançar de forma meteórica a presidência da maior potência econômica e militar do mundo, vencendo nas prévias a força da família Clinton dentro da máquina partidária que eles dominavam.
Obama hoje é o dono da senha que pode (num processo rápido de detonação) destruir a vida deste planeta em segundos. Este presidente também assumiu os EUA no momento em que aquele país esta passando pelo maior questionamento histórico a respeito do uso da sua força militar: guerras polêmicas no Iraque e no Afeganistão e a perspectiva internacional que como presidente eleito ele apresente uma resolução para os conflitos.
Ainda sim, ou talvez justamente pelos motivos citados, Obama foi indicado e condecorado com o Premio Nobel da Paz de 2009 – o maior prêmio que civilização ocidental criou para destacar figuras que trabalham pela paz mundial. E surpreendentemente, ao contrário do que o senso comum poderia esperar, ao receber o Prêmio da Paz, Obama defende a guerra em seu discurso de agradecimento. Pode alguém defender a Guerra em um prêmio entregue para pessoas que trabalham para a paz?
A máxima obamistica propagada foi: façamos a guerra para obter a paz. Isso é aceitável? A guerra como mecanismo para alcançar a paz?
Obama evidentemente não defende toda e qualquer guerra. Apenas o que ele próprio definiu como “guerra justa”, na qual três situações de risco podem levá-la: a segurança interna do país; a violação dos direitos humanos; ou quando a sobrevivência material esteja ameaçada.
Mas, existe um sofisma no discurso de Obama. Dizer que é capaz de promover guerras não significa promovê-las; dizer que é capaz de usar a força, uma força superior a todas as outras pode querer dizer: sou capaz de sair da minha zona de conforto quando e se os limites impostos por minha autoridade forem violados.
Muitos que acompanharam o discurso de Obama o compararam e o aproximaram de seu antecessor George W. Bush. Talvez isso se de mais por atenção que por aproximação real. Talvez seja uma precipitação não descabida de má intenção. Bush defendeu outro tipo de guerra: a “guerra preventiva”. Ou seja, promover guerras para prevenir situações que podem se tornar insustentáveis. A diferença entre ambos, grosso modo, é que para Bush a guerra é a primeira estratégia de abordagem da política exterior contra ameaças em iminência, enquanto para Obama guerra é posto como último recurso, depois da negociação. Além disso, a “guerra preventiva” formulada como estratégia dos falcões do departamento de Estado de Bush tem dois erros de análise: primeiro que ao prevenir um problema cria-se outro com a guerra, e depois ao considerar esta uma forma de resolver conflitos, supõe-se que sejam feitas com incursões militares rápidas e cirúrgicas. Mas, a história mostra outro contexto para as guerras: podemos decidir quando começar, mas ninguém controla quando ela termina.
Para nosso alento, Obama parece ter clara a responsabilidade de seu papel internacional para a promoção da paz mundial. Mas este fato não o permitiu abrir mão do recurso da guerra, muito menos a possibilidade de relaxá-la – nem mesmo no discurso de entrega do Prêmio Nobel da Paz. Numa perspectiva como esta, a esperança é que depositemos nas instituições internacionais (e não nos EUA) o papel de regulação das forças de segurança internacionais. Caso contrário estaremos sujeitos às vicissitudes da política interna dos EUA e do humor do seu comandante em chefe.
SUGESTÃO DE LEITURA: quem quiser ou se interessar mais pelo assunto é só checar no artigo do professor Regis Moraes para o Instituto Nacional de Estudos sobre os Estados Unidos (INEU): OBAMA, OBAMISMO - ORIGENS, FUTURO, LIMITES
LEIA AQUI o DISCURSO DE OBAMA NA INTEGRA (site do BOL)
Um comentário:
Muito bom, me fez também refletir sobre nosso julgamento (geralmente pré-pronto)no que diz respeito aos fins e aos meios.
E, sim...depositemos nossas esperanças em instituições internacionais de regulação...porque olhando claramente, que esta realidade assusta, assusta...
abraço
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