sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Crepusculo, Lua Nova, esteriótipos, arquétipos e gerações de adolescentes...

Assisti Crepúsculo. E antes do julgamento geral pré-estabelecido devo dizer que há certa altura do campeonato determinados movimentos que adquirem importância quantitativa merecem ser analisados com atenção. Se percebemos logo que não há valor artístico em algumas produções, isso não significa que aquilo seja totalmente desprovido de importância social. Crepúsculo é um sucesso de público e renda. Em livros e cinema. Merece atenção tanto quanto Harry Potter.
Além disso, quem quer conversar com os adolescentes (ou não tão adolescentes) de hoje, precisa minimamente entrar nesse mundo nebuloso de literatura fantástica misturada com cinema mega-produção. Nada contra Harry Potter, nunca li os livros, mas a produção cinematográfica é muito bem arquitetada, sem gafes e exemplar em atuação. Não faz parte do meu universo interpretativo, mas pelo menos como produção da indústria do cinema é preciso reconhecer o seu preociosismo. Mas, não entendo como Crepúsculo, com seu sucesso garantido pela já audiência alta dos livros, pode ter sido entregue a amadoras, produção e atuação: os atores são péssimos, a produção pobre, e pelo que entendi, nem o roteiro conseguiu explorar o livro tão bem assim.
Pessoalmente eu gostaria defender que considero exagerada parte da critica que cai matando nos clichês do filme. Existem clichês? Todos, inúmeros... Mas, é parte da obra. Foi feito neste intuito. É praticamente exigido pelo estilo da produção. Convenhamos: filmes para adolescentes são mesmo repletos de clichês. E, de tempos em tempos, faz parte do processo sociao reinventar os clichês para as gerações futuras.
Toda a geração de adolescentes pede seu “Romeu & Julieta”, e já não estamos mais nos tempos de Shakespeare. Cinema é mais dinâmico que teatro. Quem perto dos seus trinta anos não se lembra do Karatê Kid? A história do garoto que vai pra escola e se apaixona pela menininha bonitinha com o namorado badboy... Sempre essas histórias dividem os 'bonzinhos' e os maus - facil de identificar o herói e o vilão. Sempre há um conflito para disputar a honra de cortejar a dama mais cobiçada. Sempre há algo de disputa entre homens em busca da proteção para a mulher. Faz parte da cultura ocidental desde imemoriáveis tempos. Reinventar, reciclar, resignificar fórmulas que dão certeza de público e renda há séculos também é papel das indústrias cinematográficas. Cada geração se apega a sua característica releitura da clássica história do amor impossível.
Quando coloquei o DVD no aparelho, eu já sabia que ia encontrar este sem número de lugares comuns. Nada de surpresas ou preconceitos, faz parte da nova geração ter sua própria referência de história de amor para discutir. Como também faz sentido para as gerações antigas tentar entender as escolhas dos seus sucessores. Mas, para além dos clichês e da péssima produção, Crepúsculo teve algumas outras coisas que me incomodaram. Só mesmo assim para que eu levantasse do meu comodismo ranzinza e escrevesse algo sobre o tema no blog... e antes que algum ridículo venha criticar minha falta de assunto nos comentários, já deixo claro que estou em férias – o que significa entre outras coisas ocupar-me de questões inúteis. Pena que mantenho o vício de escrever sobre tudo que me incomoda...
Voltando ao tema da postagem, Crepúsculo não é só clichê, histórias batidas de disputas e amores impossíveis que pra qualquer pessoa que já tenha certa idade viu isso ser contado inúmeras outras vezes em bilhões de outros filmes, séries ou livros – mudando apenas certas formas e conteúdos timidamente para que tudo permaneça com ares de grandes inovações. Este o filme teve algo que me incomodou ao colocar vampiros e lobisomens no centro da história. E ao explorar essas criaturas inexistentes, tornou a presença do fantástico prioritário, mas talvez também estabeleceu uma descontinuidade com outras gerações.
Os Vampiros ou Lobisomens antes eram vilões. Mesmo em “Drácula” de Bram Stoker o personagem do Vampiro só ganhava simpatia do público porque lutava pelo amor... e em se tratando do amor há uma máxima de que vale tudo. Ainda sim, havia uma forte contradição na obra: porque se todos torciam para a realização do amor entre Drácula e sua amada Elisabetha, todos sabiam que o Vampiro deveria morrer. O Filme é dirigido por ninguém menos que Francis Ford Copolla e é um espetáculo à parte.
Hoje uma quantidade enorme de séries de TV, livros etc surgiram para explorar o tema Vampiro, Lobisomem – coisa que antes tinha um apelo moderado. Não entendo o movimento, passa-se a fantasiar a realidade com tal grau de absurdo que os vampiros assumiram o papel de guardiões do mundo e zelosos pelos nossos mais nobres sentimentos humanos. O movimento é tão forte quanto internacional entre os adolescentes.
Tenho uma sobrinha que apresenta um gosto cinematográfico quase que em antítese ao meu. Sempre que eu defendo um filme ela torce o nariz. Mas, seu argumento para me contrapor é pertinente: ela defende que se se quer realidade, não precisa de filmes. Para ela os filmes são mesmo para nos projetar a outra realidade, fantasiosa e onde outras formas são possíveis. Existe certa racionalidade no seu argumento. Não preciso nem dizer que ela não é nada fã do cinema francês. Mas, ainda defendo que o cinema pode nos ajudar a enxergar o mundo sob uma óptica diferente, ótica que permite reajustar a visão e chegar onde o realismo nu e cru das nossas posições nunca poderia ir por eles mesmos...
Mas, este é um longo debate... a questão aqui é um pouco mais estreita: qual o limite da liberdade de pensar o irreal que o cinema pode nos proporcionar? E qual o impacto dessa liberdade, dessa possibilidade de sonhar, em uma geração de adolescentes? Sinceramente acredito que não foi Crepúsculo que formou a cabeça dos adolescentes fãs da série. Mas, acredito que não por acaso Crepúsculo, Lua Nova etc. (ou mesmo Harry Potter - que segue o padrão mundo da fantasia, magia... enfim), tornaram-se ícones desta geração. Houve um encaixe entre expectativas de uma geração formada sob características específicas, seus anseios que são típicos de uma fase de formação e as características que o filme pretendeu explorar. Então estou a me perguntar: que tipos de adultos se formarão sob este processo cognitivo... ? Sob que condições a forma de reinventar as lendas do amor impossível encontra-se em criaturas sobrenaturais o encaixe necessário?
Não me entendam mal. Não estou querendo com isso depreciar as gerações futuras. Cada geração tem o direito de eleger seus esteriótipos. Vampiros, andróides, cavaleiros ou gladiadores, tanto faz. Mas, sem dúvidas eleger criaturas irreais como vampiros e lobisomens são escolhas diferentes das gerações pregressas. Escolheram criaturas bastante inusitadas para recontar nossos arquétipos do amor impossível. Desde Romeu e Julieta ou Tristão e Isolda várias formas de reviver o amor impossível puderam ser vistos na literatura, no teatro e no cinema. Isso pode querer dizer alguma coisa sobre as gerações. O quanto? Só o futuro poderá criar esta relação.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom! Concordo com o que escreveu.
Mas se tivesses lido o livro, veria que há erros absurdos como:
No livro relata que ela tem um pc lento e uma conexão discada.
No filme, ela tem um notebook da Apple e a internet não é discada.
Quando ele confirma que é um vampiro, não é naquela sequência e não é naquele cenário.
Enfim...quem leu o livro e viu o filme, ficou decepcionado.
Agora o segundo, foi mais fiel ao livro. Também pudera, mudaram o diretor!
Quanto aos arquétipos desta nova geração, só mesmo com o tempo, como você afirmou.
Imagino uma crítica sua sobre o filme Avatar. :P
Boas férias.

Anônimo disse...

o ridículo não vai reclamar da falta de assunto!

Anônimo disse...

Concordo com tudo que você escreveu; sou professor da rede pública e privada no interior de São Paulo; trabalho com adolescentes e é notório o quanto esses jovens estão carentes de uma formação de qualidade. Abs!!!
P.S: Excelente a expressão: Comodismo ranzinza....