(O texto abaixo começou como preparação de uma aula sobre multinacionais. Como acabou tendo o formato de um artigo foi enviado para o Valor Econômico para publicação. Porque é uma análise um tanto quanto óbvia, a não ser que falte artigos ou o mundo fique bastante monótono daqui para o final do ano, possivelmente não será publicado. Mas, fica o registro neste blog).
Não são os países que acompanham o movimento das empresas. São as empresas que acompanham o movimento das suas economias sedes. A internacionalização de uma empresa e a sua conseqüente valorização de ativos é um sintoma, espelha o movimento das forças econômicas internacionais. Os Estados estabelecem uma relação de sinergia com suas principais empresas e de alguma forma essas empresas representam ou expressam a força econômica dos seus países cedes. Alguns chamam isso de competitividade global. Mas, não existiria competitividade global sem a crescente competitividade local e a concentração da riqueza das nações. Para defender-se de um mercado competitivo a internacionalização foi uma saída defensiva que deu resultados importantes. Afinal, não existe empresa importante no mundo hoje que não internacionalizou suas operações, tendo tornado-se multinacional ou transnacional. E se a hipótese aqui apresentada estiver coerente, as empresas, sejam trans ou multi, sempre sofrem reflexos da sua economia sede e têm com seus países matriz uma relação umbilical.
Se considerarmos os cálculos da Revista Fortune sobre as 500 empresas mais importantes e valorizadas do mundo, podemos observar não as causas, mas as conseqüências de mudanças internacionais. Apoiando-se apenas nos dados de 2005 e 2009 mesmo que inconclusos, analisando e comparando seus movimentos macros, podemos encontrar alguns sintomas do que muitos analistas vêm apresentando em níveis mais teóricos.
QUADRO 1: Participação das principais potências
entre 500 maiores empresas (segundo a receita)
Princ. Potências: 2005 e 2009
E.U.A. 176, 140
Japão 81, 68
França 39, 40
Alemanha 37, 39
Inglaterra 35, 26
China 16, 37
TOTAL 384, 350
Fonte: Revista Fortune (http//:money.cnn.com)
elaboração própria
entre 500 maiores empresas (segundo a receita)
Princ. Potências: 2005 e 2009
E.U.A. 176, 140
Japão 81, 68
França 39, 40
Alemanha 37, 39
Inglaterra 35, 26
China 16, 37
TOTAL 384, 350
Fonte: Revista Fortune (http//:money.cnn.com)
elaboração própria
É consenso que a China tem apresentado um desempenho econômico robusto, agressivo e impressionante. Também é consenso que os Estados Unidos têm enfrentado problemas econômicos desde que a administração Bush assumiu o comando das desventuras bélicas. Pois os dados da Fortune mostram que as empresas Chinesas têm assumido posições destacadas entre as 500 maiores empresas do mundo: mais que dobrou (230%) a participação chinesa em 5 anos enquanto que reduziu em 20% a participação de empresas estado-unidenses no ranking Fortune.
Destacada também é a estabilidade de grandes empresas européias como França e Alemanha enquanto a economia inglesa acompanha mais a situação crítica dos EUA que a relativa estabilidade que se conquistou na Europa com a zona do Euro.
QUADRO 2: Localização das maiores empresas (entre as 500)
Blocos Econ. 2005 e 2009
NAFTA 191, 158
ZONA DO EURO* 106, 126
JAPÃO e NIC’s 97, 92
BRICs 26, 58
TOTAL 420, 434
* Zona do Euro não Incluí Inglaterra
Fonte: Revista Fortune. (http//:money.cnn.com).
Elaboração Própria
Blocos Econ. 2005 e 2009
NAFTA 191, 158
ZONA DO EURO* 106, 126
JAPÃO e NIC’s 97, 92
BRICs 26, 58
TOTAL 420, 434
* Zona do Euro não Incluí Inglaterra
Fonte: Revista Fortune. (http//:money.cnn.com).
Elaboração Própria
Outro modo de olhar para este ranking é a partir dos “blocos econômicos”: mais uma vez a liderança dos EUA fez-se em queda enquanto os países emergentes liderados pela China ganham espaço. Neste caso, evidentemente, se observa a potencialidade do Euro, que mesmo mantendo-se estável com as economias principais como a francesa e alemã, mas também podemos incluir Holanda e Bélgica nesta relativa estabilidade, ainda conseguiu agregar a outras economias em desenvolvimento como Espanha, Portugal e Itália. Da mesma forma o Japão, embora perdendo peso relativo como potência, teve preservado seu peso relativo como bloco econômico junto aos Novos Países Industrializados (NIC’s). Faz-se notar porém que, enquanto EUA perde peso hegemônico, China adiante do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) ganha espaço econômico e consegue projetar-se internacionalmente.
QUADRO 3: Localização das 500 maiores empresas
Por Região Geopolítica 2005 2009
América do Norte 189, 154
Europa Ocidental* 175, 178
Ásia Oriental 118, 136
Oceania 9, 9
America Latina 5, 11
Europa Oriental 3, 10
Oriente Médio 1, 2
África 0, 0
TOTAL 500, 500
* Turquia aparece aqui na Europa Ocidental,
* Suíça está na Europa Ocidental
Fonte: Revista Fortune. (http//:money.cnn.com)
Elaboração própria
Por Região Geopolítica 2005 2009
América do Norte 189, 154
Europa Ocidental* 175, 178
Ásia Oriental 118, 136
Oceania 9, 9
America Latina 5, 11
Europa Oriental 3, 10
Oriente Médio 1, 2
África 0, 0
TOTAL 500, 500
* Turquia aparece aqui na Europa Ocidental,
* Suíça está na Europa Ocidental
Fonte: Revista Fortune. (http//:money.cnn.com)
Elaboração própria
Por ultimo é preciso destacar as diferenças geopolíticas. Evidentemente é mais importante para a questão econômica analisar acordos multi e/ou bilaterais. Porém, do ponto de vista da distribuição da riqueza mundial, o dado abaixo aparece como indispensável: não é por acaso que as ausências de empresas na África; já a pouca importância da América Latina torna essas duas regiões menores do ponto de vista do investimento internacional.
Das empresas mais valorizadas do mundo, 70% esta nos seis maiores países: EUA, Japão, França, Alemanha, Inglaterra e agora China. Praticamente 90% se encontram em países desenvolvidos do Norte, no eixo Japão, NICs, América do Norte e Europa Ocidental. Legado ao restante do mundo a tentativa de reorientar este desequilíbrio patente. Entre outros motivos, isso deve ser levado em consideração nas negociações internacionais.
Todas as 500 empresas têm alcance internacional. Algumas mais outras mesmo, porém faz diferença sua localização estratégica e sua sede. Não apenas isso, regiões gigantes do Sudeste Asiático também estão subjugadas pelo sistema que elege as principais economias força financeira e aos países pobres fatalidades: como misérias laborais, falta de investimentos, indiferenças nas questões agrícolas e de segurança alimentar etc.
Finalmente, podemos perceber que há uma pressão dos emergentes sobre as lideranças consolidadas. Rússia, sem dúvidas é uma incógnita incômoda na zona do Euro. China tem pressionado Japão no leste asiático e o crescimento da Índia tem sido evidente no sudeste daquele mesmo continente. Nas Américas, EUA tem assegurada sua hegemonia, porém, o Brasil surge timidamente como contrapeso, ainda bobo, ainda tímido, sem muita sinergia, bem à moda vira-lata.
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