quinta-feira, 16 de abril de 2009

Think Tank ou escolas de pensamento.

Um dos conceitos mais difíceis de tratar dentro da Ciência Política é a definição de think-tank. Em português traduzimos o conceito para "escola de pensamento". Mas, o termo se refere a uma expressão mais próxima de “reservatórios de pensamento”. Evidentemente é uma expressão idiomática. Melhor nos preocuparmos com o que ela quer dizer do que com sua tradução meio que ao pé da letra... ainda mais porque é um conceito carregado de significado.

Os think tank's surgem na história do pensamento político como instituições não acadêmicas que têm propostas políticas. Ou seja: são instituições que têm uma dada orientação política, que se baseia em algumas idéias mestres e tem como desdobramento a proposta de práticas sociais determinadas. Essas “escolas de pensamento” teriam o papel de resguardar, sustentar e sofisticar suas linhas centrais e ao mesmo tempo torná-las acessíveis a governos e sociedades na orientação da prática políticas.

O termo escola de pensamento não é errado, porque os think tanks necessitam que suas idéias formem a cabeça da sociedade para serem aceitas pelas instituições que vão executar suas idéias. Mas, o termo de reservatório de pensamento talvez seja mais correto, já que ali se concentram estudiosos desse tipo determinado de pensamento, resguardando a idéia, nutrindo-a de tratamento e alimentando quem achar necessário. E isso não confundiria a instituição com esse determinado fim com uma instituição acadêmica.

Em princípio, não se pode aceitar que um think tank seja ligado às universidades ou faça parte dela. Porque essas instituições fogem ao próprio propósito acadêmico das universidades que seria abarcar um número diverso de intelectuais das mais variadas correntes e congregá-los na formação de jovens estudantes. Nem sempre é assim, mas é um suposto diferente a idéia de think tank e as universidades deveriam ser menos homogêneas que são no Brasil.

Além de traduzir o conceito, uma das dificuldades é explicá-lo. Quais as características de uma instituição para defini-la como think tank? E onde se encontram essas instituições no Brasil e fora dele?

O papel mais conhecido é pautar o debate político, publicando análises, estudos, divulgado dados etc. Podemos encontrar essas instituições em universidades, mas são mais comuns como prestadoras de serviços. Há um terceiro tipo de think tank que são os departamentos governamentais. É evidente que pela própria missão das universidades em abrir debates, formar multiciplidade de áreas, expandir o conhecimento, as escolas de pensamento homogêneas têm muitas dificuldades em se manter fiéis aos seus propósitos. Assim, também essas instituições no setor público, também sofrem impacto das mudanças políticas.

Tem-se considerado como primeiro think tank do mundo a Fabian Society da Grã-Bretanha, criada em 1884. Mas, foi sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial que se proliferou este tipo de instituição. As próprias instituições de regulação que saíram do acorde de paz de Bretton Woods em 1944 podem ser consideradas escolas de pensamento. World Bank e FMI divulgam estudos que visam formatar o comportamento das diferentes nações membros.

Na década de 1990 nos EUA a moda foi tamanha que deste tipo de instituição surgiram os Advocacy Tank’s. Muitos desses grupos com orientação neoconservadora como o PNAC -Project for the New American Century, criado em 1992 em Washington por militares neocons como Paul Wolfowitz y Lewis Libby, assessores de Dick Chenery, famoso Ministro da Defesa de Bush e um dos pais da ideologia da Guerra Preventiva e da presença dos “falcões” no governo republicano dos EUA.

No Brasil é difícil dizer que temos um think tank no sentido pleno do termo. Escolas de economia como a PUC-Rio, A FGV e a Unicamp têm orientação clara nas suas análises. Diferentes entre si, defendem cada qual, a partir de estudos e debates, um tipo de orientação econômica. Formam e fornecem assessores aos diferentes governos, pautam debates. Mas, é difícil colocá-las como produtoras diretas dos seus pensamentos. A Unicamp é herdeira direta da CEPAL – esta sim um think tank – e a PUC-RJ tem orientação muito forte na economia ortodoxa dos EUA representada por várias escolas como Chicago, Princeton etc.

Além disso, algumas outras instituições se colocam como think tanks. Agora como está na Wikipédia, dizer que o Instituto Theotônio Villela é um think tank. Chega a dar medo. Ou o IFHC, como o ex-presidente pretende. Ainda falta muito. Falta muito estudo, produção, formação pra se chegar lá.

Por enquanto, certo mesmo é que para entendermos as políticas adotadas pelos governos, dentro ou fora do Brasil, precisamos estudar os think tanks. Em geral a fonte das práticas políticas vem de alguma escola de pensamento. Em geral esta escola de pensamento tem sede fora do Brasil. Mas, nem por isso é irrelevante ou desprezível, talvez por isso mereça nossa atenção redobrada. Por que como já aconteceu muitas vezes em nossa história, por importarmos pensamento usados e desenvolvidos para outros contextos, trocamos gato por lebre.
PS: pelamordedeus!!!! de quem foi a idéia ridícula de traduzir "think tank" como "catalizador de idéias" - fala sério!!!

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