Claro que perguntei e me indicaram andar uns 200 metros e olhar a direita quando começasse uma pracinha. Não tinha erro, disse minha informante. Não teve mesmo. Pra mim o acesso é bem fácil, andar naquelas calçadas movimentadas tortuosas e estreitas eu tiro de letra. Mas, qualquer pessoa acima dos 65 anos de idade teria dificuldades. O acesso à Catedral de campinas de carro é fácil, de ônibus é mais complicado, à pé é cercado por barreiras arquitetônicas e sociais.
Já na porta da Catedral Paula e Ricardo Leite me esperavam. E Ricardo reclamava do Box que a prefeitura colocou com as informações turísticas sobre a Catedral. Fez inúmera criticas coerentes: se você se posicionar em frente o Box com a esperança de ler as informações e conferir olhando pra Catedral, tire seu cavalo da chuva porque a obra da prefeitura impede que o leitor olhe a obra, torna-se uma barreira. Depois, as informações estão todas em português, não há nada em inglês ou espanhol, ignora algumas fontes... Enfim, a pessoa que fez, provavelmente do departamento de turismo, não consultou o departamento de obras, que não falou com o restauro da igreja, que vê aqui na praça como uma barreira e não como uma ajuda.
(Placa de informação sobre a Catedral. Não Existe "Largo da Matriz" - além de tudo a informação é errada. Ou é Largo da Catedral - como é popularmente conhecida a praça - ou usa-se o nome correto: Praça José Bonifácio. Tirei a foto exatamente em frente pra mostrar que para ler as informações e ver a Catedral não seria possível - era justamente o que Ricardo Leite dizia quando o conheci para esta série de postagens sobre o tema)
15% da população brasileira têm dificuldades motoras. Alguns são problemas congênitos, outros, problemas vindos de acidentes no decorrer da vida, mas a maioria são pessoas com idade avançada: o maior público que freqüenta a Catedral. Enquanto saímos para o almoço pude conversar um pouco com Ricardo Leite sobre o assunto e ele reclamou do pouco valor que a prefeitura dá ao tema. Me disse que tem idéias para discutir esse movimento do entorno da Catedral, mas existe muita resistência e dificuldade para que as pessoas trabalhem no problema. É um vício do setor público mesmo: mais importante que resolver o problema, os políticos querem que seu nome seja associado à resolução do problema a ponte da propaganda ser mais importante que o esforço e a concentração para buscar uma resposta ao problema.
Enfim, quando falei com Ricardo Leite, percebi que ali se encontrava uma pessoa preocupada com o conceito e não com a norma. Queria facilitar o acesso a Catedral. É uma preocupação nobre e justa, que vai lhe trazer inúmeros cabelos brancos. Porque além de enfrentar uma série de dificuldades do ponto de vista arquitetônico, vai ter que lidar com políticos míopes, gente folgada, os motoristas de carros que se acham os donos da rua, os comerciantes que jogam seu entulho em qualquer lugar, enfim: uma enormidade de problemas, vícios e malesas que impressiona porque vai desde a ignorância das pessoas folgadas até a má formação dos arquitetos.
Veja: um último comentário sobre o assunto me permito fazer para dimensionar o tamanho do problema. Enquanto subíamos na torre fiquei impressionado com o tamanho dos prédios. Se a catedral tinha 50 metros, muitos dos edifícios no entorno tinham 80, 100 metros. Coisa do encantamento dos anos 1960 com a modernidade e a construção de edifícios altos. Essas construções trazem uma série de problemas urbanos, alem da densidade populacional exagerada. A Catedral, que é uma obra arquitetônica rara, fica absolutamente encoberta pelos prédios. Uma pena! Pagamos pela nossa ignorância presente e pela ignorância passada dos nossos antecessores. Queria eu que Paula tivesse razão e eu pudesse enxergar a Catedral da saída do ônibus no início da Francisco Glicério.
(Vista da Torre da Catedral. Muitos prédios atrapalham a visão...)
(Vista das proximidades da Catedral a partir da rua Nossa Senhora da Consolação: o caminho das pedras até se chegar à Igreja)
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