segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A rustica maneira de funcionar o mercado de capitais...

João Pedro é zagueiro no futebol dos amigos toda terça às oito. Depois do jogo todos ficam por ali jogando papo pro ar. Um dia JP comentou que gostaria de abrir uma pastelaria no Braz, mas não tinha dinheiro o suficiente e nem crédito no Banco. Precisaria de um emprestimo de praticamente 100 mil reais. Ouvindo a história, Paulinho comentou que vendeu sua moto e estava com 10 mil aplicado no Banco, rendendo uma miséria de cinquenta reais por mês. Luizão também tinha uma quantia parecida e não estava nada contente com os rendimentos. Assim, os amigos de futebol deram a seguinte sujestão a JP: todo mundo aqui te empresta 10 mil. Voce vai levantar seus 10 mil e paga a gente por mês um juro de 3% (ou seja, 300 reais por mês) e no final de 2 anos você junta grana o suficiente para pagar todo mundo com a renda da pastelaria. Se o negócio desse certo, JP se comprometeria, depois de um ano a aumentar para 5% a transferencia para os amigos. Se desse errado, todos socializavam as perdas e JP vendia o negócio e quitava a dívida de 10 mil deixando os amigos sem o ganho do juro esperado.
JP topou. Nascia a PASTELARIA JP sociedade anônima. João Paulo Silva era o sócio proprietário do negócio e seus amigos os investidores. Nosso empresário programou-se, alugou um barracão, fez algumas melhorias, comprou material, contratou um pessoal pra trabalhar. Sua pastelaria inaugurou com um aluguél de mil reais, com dividas de 3 mil, com folha de pagamentos de mil e quinhentos e gastos correntes de mais quinhentos reais. Ou seja, precisava faturar mais de 6 mil reais para conseguir se manter. Um pastel custava 2 reais, se JP vendesse 3 mil pasteis por mês, conseguiria pagar seus custos. Ou seja, estamos falando de uma venda de 100 pasteis por dia. Eis que no primeiro mês JP vendeu 60. No segundo mês 90. No terceiro mês 130. Depois o negócio engrenou e JP vendia mais de 300 pasteis diarios. O nosso empreendedor passou a guardar um pouco de dinheiro para pagar seus amigos ao final de dois anos. Ou seja, passou a poupar também no que os administradores chamam de amortização da dívida.
Lá por meados do sexto mês do negócio, naquele mesmo futebol de sexta feira, Arlindinho disse que sua mae ficou doente e que suas despesas no hospital seriam grandes. Estava preocupado e perguntando aos amigos se algum deles gostaria de ficar com sua parte. O próprio JP disse que compraria o titulo de participação de Alindinho. Com essa transação acionária a despesa de juros da pastelaria caiu para 2,7 mil reais. Depois, foi a vez de, no mês seguinte, Crebão querer sair do negócio, queria trocar o carro e usar a grana. Perguntou se JP não compraria também suas ações. Mas, como no mês anterior JP já tinha desembolçado 10 mil reais, estava descapitalizado. Foi ai que o esperto do Paulinho entrou. “Eu compro”. E vendeu seu próprio carro para comprar a parte de Crebão no negócio. Agora Paulinho tinha 20% das ações da pastelaria, que lhe rendiam R$ 600,00 por mês e, como combinado, na festa de um ano de inauguração, passaria a lhe render R$ 1.000,00.
No final dos dois anos, JP já tinha um negócio consolidado. Estudava a ampliação de sua empresa. Queria fazer novos investimentos. Mas, era a hora de se reunir com a turma de futebol para acertar as contas. Restavam, dos 10 iniciais, ainda 6 sócios (4 com 10% cada em ações e Paulinho com 30%). A longo dos dois anos JP conseguiu amortizar 30% da sua dívida. Ao checar o momento do acerto, JP fez a seguinte proposta a Paulinho, vamos renovar por mais dois anos nosso acordo e te pago R$ 1.000,00 por mês ao seu investimento (ou seja, não pagaria mais 5% de juros, mas 3,33% - sem nenhum reajuste e com o direito de encerrar a conta – pagando os 30 mil que deve, evidentemente, a qualquer momento).
JP quitou com os outros 4 sócios suas dívidas. Paulinho, que inicialmente investiu 10 mil reais, ganhou por um ano 300 reias menas e outros 500 com seus 10% inicias investidos; somando num total de R$ 9.600,00. Com o lucro comprou a parte de outros dois sócios. Só em um ano a pastelaria de JP rendeu a paulinho, sem o menor esforço, R$ 18.000,00. Ou seja, praticamente todo o dinheiro investido no negócio foi recuperado nesse prazo e Paulinho ainda tinha uma renda de R$ 1.000,00 por mês nos próximos 2 anos e um passivo de R$ 30.000,00 esperando para ser resgatado.
JP montou seu tão sonhado negócio. Empregava agora 8 funcionários. Tinha um faturamento de mil pasteis por dia fora outros salgados, refeições e produtos que circulavam. Usou o dinheiro que deixou de pagara a Paulinho para comprar refrigeradores, equipamentos e melhorar o visual do seu bar. Aumentou a produção, atraiu mais clientes e não precisou contratar mais gente para dar conta, apenas os investimentos foram capazes de melhorar a produção. Hoje ele não sente o pagamento dos R$ 1.000,00 de juros e pode quitar seu negócio com Paulinho no momento em que achar oportuno o tempo em que se preocupava se teria dinheiro ou não para tocar seu negócio já passou.

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