Qual o princípio por detrás de uma Catedral? Que objetivos ela tem? Por que uma construção desta onipotência na cidade?
Só é possível responder a essas perguntas quando nos colocamos, de corpo e alma, dentro de centros urbanos. As catedrais foram constituídas como redutos sacros e fortificados da Igreja e são fenômenos típicos das aglomerações urbanas. O princípio que parece regê-las é o da conversão - de almas, de espaços. Aquele ambiente agradável, silencioso e isolado do mundo externo é um convite ao ócio e à contemplação.
Entrar em uma Catedral é inserir-se em um universo paralelo. A grandeza, a beleza e os espaços vazios servem para gerar conforto - não é ao acaso que esses lugares são assim, tem-se como propósito causar um impacto reverso, quebrar o ritmo do movimento e do dinamismo urbanos, fazer parar e baixar a tensão. O ambiente parece pedir que você respire mais, que seus batimentos cardíacos se tranquilizem.
A Catedral é a antítese da metrópole. E só faz sentido nas grandes cidades onde é opressor o ritmo do trabalho, do movimento e dos compromissos. O mundo moderno mexe muito com o tempo e faz movimentar de forma sobremedida as pessoas. Os corações batem de forma acelerada, os passos se tumultuam nas ruas. Neste mundo novo, faz-se necessário parar algumas vezes; quebrar o ritmo.
Mas, como fazer isso nas nossas grandes cidades. E principalmente: onde?
Cada vez mais cheias, cada vez mais caóticas, cada vez mais tumultuadas, as metrópoles improvisam espaços de lazer. Daí, podemos expandir o conceito de Catedral para um espaço onde cada pessoa foge do ritmo frenético do dia-a-dia para alguns momentos de contemplação, sossego e descanso. Se pensarmos nisso para as grandes cidades brasileiras não é difícil chegar à conclusão de que as possibilidades de espaços públicos de sociabilidade, de ócio, de reflexão e de paz são cada vez mais remotos.
São Paulo é nosso maior exemplo de metrópole. A vida na capital paulista é ritmada pela correria. E ali encontramos lugares muito interessantes para lazer e contemplação, quase sempre espaços privados. Não me refiro à imensidão de atividades culturais, baratas ou gratuitas, quase sempre anunciadas e que fazem o circuito social da cidade muito dinâmico. Refiro-me a espaços públicos de ócio e revigoramento da vida interior: praças, lagoas, parques, gramados etc. É mais comum aos paulistanos desfrutarem da gastronomia como espaço de sociabilização e lazer: cafés, restaurantes, bares etc. Aí encontramos lugares interessantes, verdadeiras catedrais: não é raro entrar por uma portinhola discreta, andar por um corredor esquisito e chegar a uma sala sofisticada, bonita, agradável e discreta para uma boa conversa regada a petisco e bebida.
Mas, para pertencer a esse restrito circuito do lazer e do prazer paulistano é preciso ter dinheiro!
Os espaços criados e transformados em pequenos templos, distantes do ritmo frenético da cidade custam caro - é o preço de proporcionar lugares agradáveis em uma cidade absolutamente agressiva. E quanto mais sofisticado o ambiente, mais caro ao seu freqüentador.
Já do ponto de vista da arquitetura metropolitana, em sentido mais geral e falando das possibilidades públicas de acesso: tudo está cada vez mais comprimido, apertado, movimentado e, finalmente, descaracterizado.
O que acontece então? As pessoas com menor poder aquisitivo e que dependem da geração desses espaços públicos para quebrarem o ritmo alucinante das suas vidas estão, a cada momento, com menos opções.
Disso muitas conseqüência podemos discutir: psicossociais, políticas e sociológicas. Mas, só há um remédio eficiente para as diversas patologias individuais e coletivas resultantes desse fenômeno: criar espaços públicos de sociabilidade; construir catedrais.
Construir catedrais. Não falo das Igrejas - mesmo que observando a crescente mudança do cenário local, não é ao acaso que grandes cines, antigos e clássicos se tornaram templos evangélicos - mas do papel que o poder público exerce hoje na geração de qualidade de vida.
Cabe ao Estado organizar espaços em que a sociabilidade aconteça e que essa sociabilidade resulte em laços de solidariedade. São Paulo é o grande exemplo dessa necessidade de geração de locais onde o ritmo é interrompido e a cabeça volta ao seu devido lugar e também é o lugar onde o lazer e o ócio tem papel importante para qualidade de vida da população.
Cabe ao Estado organizar espaços em que a sociabilidade aconteça e que essa sociabilidade resulte em laços de solidariedade. São Paulo é o grande exemplo dessa necessidade de geração de locais onde o ritmo é interrompido e a cabeça volta ao seu devido lugar e também é o lugar onde o lazer e o ócio tem papel importante para qualidade de vida da população.
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