Ocorre agora nos jornais um debate que recorrentemente
acontece: a base aliada, em tempos eleitorais pressiona por mais espaço.
Momento de acomodação da composição do governo, os principais aliados se
colocam: PSB já saiu do governo – foi rachado e teve o nascimento do PROS; o
PMDB consegue desde sempre ser governo e ser oposição – diga-se de passagem,
mais eficiente na crítica e nos contratempos ao governo que a própria oposição;
ainda temos o PSD, que está quieto na base aliada, mas por conta dos arranjos
que os acomoda e os mantém.

É uma luta constante e se dá nas estruturas de poder. É o movimento constante dos partidos e dos políticos que está diretamente ligado ao funcionamento das instituições. Normalmente os brasileiros têm acesso a esses casos pelos jornais e chamar isso de crise é exagero para vender jornais. Se tratam de negociações e de disputas de cargos e influências que são colocados e recolocados à mesa com um jogo de cartas que a cada nova rodada é embaralhado e distribuído. Faz parte da composição do governo reorientar sua base política e não seria um governo republicano e democrático se não houvesse a necessidade de orientar e rever interesses.

O primeiro fenômeno diz respeito as mudanças propostas e em curso pelas políticas públicas do governo federal. Se você observar o gráfico ao lado vai ter uma noção do quanto a representação de interesses dos movimentos sociais no Congresso é subvalorizada: enquanto temos 15 representantes dos ambientalistas, temos 160 congressistas ligados ao agronegócio; enquanto temos 91 representantes sindicais, temos 273 ligados ao setor empresarial, e assim vai.
De outro lado, a sustentação do governo federal passa por uma série de concessões nos estados. No Rio o PT teve que ceder a Eduardo Paes e Sérgio Cabral por várias eleições e não lançar candidatos. Isso deixou o partido debilitado no Estado. No Maranhão, as concessões foram ao ex-presidente e senador José Sarney. Em Pernambuco, foi Eduardo Campos que se impôs aos avanços locais do partido. Em São Paulo, a prefeitura comporta mais funcionários indicados por Kassab que por Haddad. Em vários outros estados o partido seguiu a direção nacional por não lançar candidatos a prefeito nas principais cidades e capitais para manter o pacto federal. Me pergunto em que medida esse desenho não emperra iniciativas e bandeiras de transformação necessárias ao partido?
Vejam que a imprensa não enxerga que há vários níveis de negociação, que passa pelo aspecto federativo do Brasil. Assim como para a população é difícil de entender porque determinados interesses de grupos facilmente passam pelo congresso, enquanto alguns aspectos mais gerais não são considerados. Até agora, a lógica petista tem sido não entrar em conflito com as grandes bancadas e em estados e municípios há sempre uma opção petista pela manutenção da aliança que dá sustentação ao governo federal. Esse modelo, arquitetado pela burocracia do partido, que faz e refaz a presidência, que colocou tanto Lula quanto Dilma á frente das coligações, pode estar com seus dias contatos. Por um motivo muito claro: a verdadeira crise que diagnosticou-se no país em 2013 – as Jornadas de Junho.
Todos que estão chegando ao mercado de trabalho recentemente tinham 10 anos ou menos quando os primeiros resultados do bolsa família começaram a mudar a estrutura de renda dos mais pobres do Brasil. O crescimento pelo consumo, a geração de emprego e renda entre os mais pobres e vários indícios do sucesso do Bolsa Família já dão sinais de esgotamento. O mais forte dos sinais é a repulsa de parte significativa da juventude pela política partidária. Tudo isso requer novas atitudes do governo e talvez uma agenda mais ampla de transformações sociais. Rever a política de alianças e o pacto federativo de governo é fundamental para poder relacionar questões que sustentam o PT no governo federal com sua base política, tanto social quanto partidária.
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