segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A opção conservadora

Dificilmente alguém já esperava os resultados apresentados pela ultima pesquisa de opinião  divulgada na TV e nos jornais entre 30 e 31 de agosto. Depois de uma semana de horário eleitoral, dois fatos não eram esperados. De um lado esperava-se que Celso Russomano fosse cair. De outro lado esperava-se que a rejeição de José Serra também fosse cair.
A rejeição de Serra é de 34% segundo IBOPE e 43% segundo Datafolha. Isso praticamente o descredenciou como favorito, arriscado inclusive a tirá-lo do segundo turno. Rejeições acima de 30% tornam-se indicador importante para perceber que mesmo que o candidato vá ao segundo turno ele tem poucas chances de eleição. A mesma percepção que faz essa parte do eleitorado a votar em qualquer outro menos naquele candidato em especifico é o indicador que ajuda outros eleitores a optar por outros mesmo nao indicando rejeicao. Portanto, não é que os outros 57% dos eleitores cogitam votar em Serra, mas o índice é uma expressão da insatisfação do eleitorado com a trajetória recente do tucano.

Por outro lado, esperava-se a queda de Russomano. Não ocorreu. O pouco tempo de TV não foi o suficiente para mudar sua posição, embora, se repararmos o que mudou foi o perfil do seu eleitorado: perdeu espaço nos redutos petistas, ganhou espaço nos redutos tucanos. Vem colhendo, como um bom semeador, rejeições de ambos os lados e se fortalecendo como opção. Ainda conta com a vantagem que tanto Serra quanto Haddad preferem o enfrentar a enfrentarem-se. Isso fez com que os dois principais candidatos com tempo de TV e recursos o poupassem de ser atacado. Avenida aberta para que ele não precise se colocar na defensiva e poder fazer campanha abertamente. Mas, com um partido pequeno, poucos recursos financeiros e tempo de TV baixo, dificilmente saia da margem dos 30%. Dai por diante, a expectativa do seu staff é que isso o credencie como um candidato para o segundo turno; onde começa uma nova eleição.

Haddad está talvez um pouco melhor do que ele próprio esperava. E um pouco pior do que sua equipe talvez tenha percebido. Melhor porque sua campanha de popularização tem dado efeito - e rápido. Seja porque se coloca ao lado de Lula e Dilma, seja porque o PT é forte na periferia e a população começa a descobrir que ele é candidato da periferia, seja porque outras promessas de renovação como Chalita e Soninha não vingaram. Mas, talvez, para Haddad, seria melhor que Serra (e não Russomano) estivesse em primeiro. É uma falsa ilusão de bons ventos.

Obviamente a máquina partidária do PSDB é muito mais forte que a do PRB. Serra também conta com a simpatia das elites paulistanas, que preferem seu nome, financiam sua campanha e saem à rua defende-lo. Mas, se Serra perde (e muito) seu apelo popular paulistano, cedo ou tarde as mesmas elites que o defendem o abandonarão. Vão certamente mudar de barco. E não vão para o barco do PT e de Haddad... dificilmente. Mais fácil correrem para o bote de Russomano.

Todos sabemos do conservadorismo eleitoral dos paulistanos médios. Mas, não é exatamente isso que está em questão. Russomano pode ser a alternativa viável e popular que não trará problemas aos ricos e poderosos. Só isso. As grandes forças econômicas em São Paulo sabem e calculam muito bem que é mais barato pagar propina à respeitar todas as regras e procedimentos para seus empreendimentos serem aprovados pelos trâmites públicos. Preferem pagar, financiar, agradar, mesmo que à contragosto, que passar por todos os processos legais de licenciamento e burocracia. Não é uma preferencia desmedida, é calculada – fica mais barato, rápido, prático. Quando eles têm um amigo como o Serra no poder, nem pagar, nem tramitar, conseguem com base na camaradagem que dá sustentação política a um candidato ligado a esses setores sociais. Com o PT, embora saibam que já não é mais o mesmo partido que não dialoga, não negocia, não falcatrua, sabem também que tem inimigos históricos entre algumas forças do partido que ainda podem dificultar. Problemas com o partido e o risco de enfrentar a impessoalidade da burocracia podem emperrar empreendimentos promissores de muito interesse privado e pouca viabilidade pública.

Russomano pode significar a opção conservadora que controla as massas e faz as vezes do orador populista que associado ao esgotamento de Serra pode tornar-se a opção das elites conservadoras. Torna-se mais perigoso que Serra porque tem pouco histórico, menor rejeição e um discurso populista mais apelativo. Russomano pode roubar votos de Haddad nos redutos petistas, pode retomar os votos perdidos recentemente, num eventual segundo turno. Com tempo de TV e dinheiro para campanha o segundo turno começa de outra forma. Duvido que o PSDB (estafado com as crises de garoto mimado que Serra tem dado), não entre de cabeça numa eventual campanha de Russomano no segundo turno. Duvido que não cresça a base de sustentação partidária do inexpressivo PRB numa eventual disputa com Haddad. E isso significa que pode juntar o antipetismo das zonas centrais com o populismo capaz de fascinar as massas da periferia, mais dinheiro e partidos. Num quadro desses, se Serra não reverter suas atenções ao plano local e esquecer seu sonho de ser presidente e o PT buscar algo mais que sua base política forte e Haddad não fortalecer seu nome e conseguir mostrar sua liderança entre aqueles que ainda pouco ouviram a seu respeito, então teremos mais um aventureiro à frente da maior e mais caótica cidade do país.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa a análise, Luís!!!!
Precisa e Sagaz!!!!!
Beijo,
Karen

luisvita disse...

oi Karen
valeu pelo comentário
luis